Princípios ESG aplicados às empresas do setor da construção civil

Gabriela Souza / 2 de outubro de 2020

RESUMO DO TEXTO:

  • O mundo procura criar um padrão de acordo com as métricas ESG em prol à evolução da cadeia construtiva;
  • A pandemia do novo coronavírus acelerou questões relacionadas ao ESG e fundos de investimento;
  • O setor da construção tem impacto negativo em diversos critérios ambientais, mas também é fundamental para o desenvolvimento do país por conta de suas constantes contratações;
  • A visão do investidor internacional está direcionada aos fundos ESG.

Ações que visam o comprometimento ambiental, econômico e social devem ser objetivos de empresas responsáveis com a sustentabilidade. É exatamente nessa direção que se aplicam os princípios do ESG – do inglês environmental, social and corporate governance que traduzido refere-se às questões ambientais, sociais e de governança. 

canal do enredes no YouTube organizou um webinar para tratar sobre princípios ESG aplicados às empresas do setor da construção. Na 26ª edição, Roberto de Souza – CEO do CTE enredes, recebeu os convidados Rafael Tello – Diretor da WATU Sustentabilidade, Vitor Bidetti – Sócio fundador e CEO da Integral BREI, Katia Mello – Sócia e Co-presidente da Diagonal e Hugo Rosa – CEO e fundador da Método Potencial Engenharia. 

Atualmente o mercado está focado em organizações que são sustentáveis e socialmente responsáveis. O mundo procura criar um padrão de acordo com as métricas ESG – o que é importante para a evolução da cadeia construtiva. Hoje existem certificações ambientais – LEED, AQUA, EDGE, WELL, FITWEL, SITES e outras – que examinam o comportamento da empresa como gerenciadora do ambiente natural onde atua; certificações de empresas – SISTEMA B – visa a governança, o ambiente e questões sociais, e a Avaliação de fundos de investimentos sustentáveis – ESG – GRESB e SITAWI. 

Dentre as vantagens dos princípios ESG, podemos listar o fortalecimento da marca corporativa, boas referências para a indústria e sociedade, retenção e satisfação de colaboradores, mais investimentos, aumento de receita com redução de custos, dentre outras. 

A atuação do ESG nas empresas

Valores e princípios devem estar no cotidiano das empresas, não apenas em quadros com certificados nas paredes, como defendeu o convidado Hugo Rosa. “O principal papel social das companhias é devolver pessoas à sociedade melhor do que entraram. Precisamos criar condições para que isso aconteça”, falou. O CEO entende que o ESG direciona para isso. 

A pandemia do novo coronavírus acelerou questões relacionadas ao ESG e fundos de investimento. Atuando de maneira ampla nesse universo, Vitor Bidetti disse que passaram a desenvolver iniciativas que buscam enquadrar investimentos em características sustentáveis. “É um caminho novo, acelerado pela Covid-19 que não terá mais volta”, defendeu. 

Diante dessa realidade, Rafael Tello apresentou a evolução do ESG. Para o convidado, vivemos um momento de transição no setor da construção. “Primeiro, existiu a ideia do ESG atrapalhar os negócios – os analistas entendiam que empresas com bom desempenho nesse sistema, não tinham foco no trabalho. Em sequência, o ESG somou ao negócio e começaram a surgir valores positivos dessas práticas. Por último, veio o aumento da pressão para que todas as organizações mostrassem resultados em ESG”, explicou. 

Katia Mello defende que o foco das indústrias da área construtiva deve estar no potencial humano. “De que maneira desenvolvemos as capacidades humanas procurando soluções inovadoras com o desafio de termos um mundo justo e igualitário?” questiona a convidada que implementou o Sistema B na Diagonal. “Essa certificação é voltada ao propósito de reconhecer as melhores empresas para o mundo (e não do mundo) pois observa impactos positivos que nossas ações devem fazer”, apresentou. Esse sistema está presente em 71 países e em mais de 3.500 organizações. Só no Brasil há 160 marcas certificadas Sistema B.

A pandemia acelerou processos de maneira positiva. O próprio Sistema B expandiu ações e iniciativas para acolher o maior número de empresas que pudessem entrar nesse movimento em prol à sustentabilidade, ações sociais e governança. 

O setor da construção e o ESG

Segundo o fundador da Método Potencial Engenharia, o setor da construção tem a obrigação de trabalhar com os princípios ESG. “Quarenta por cento de todos os recursos extraídos da natureza são destinados ao setor construtivo”, apresentou Hugo Rosa. Fazendo uma análise do ponto de vista social, o convidado disse que o Brasil teve um dramático êxodo rural. “Nós lidamos mal com isso. Temos que melhorar as condições dessas pessoas nas cidades (em sua maioria locadas em periferias) e também a questão ambiental, pois a nossa imagem (construção civil) perante a sociedade é ruim”, explicou.

O setor da construção tem impacto negativo em diversos critérios ambientais, mas também é fundamental para o desenvolvimento do país por sua característica empregatícia, defende Rafael Tello. O convidado articulou sobre empresas que trabalham com ESG e o quanto melhoram a imagem perante investidores. “Além de ajudar na economia, contribuímos com boas margens e a produtividade do trabalhador”, mostrou.

A visão do investidor internacional está direcionada aos fundos ESG e isso foi acelerado pela pandemia, explicou Vitor Bidetti. “O investimento ESG passará a ser quase que mandatório já que existem estudos que mostram os custos de captação e emissões das empresas sendo menores”, argumentou. Para o convidado, isso traz uma agenda produtiva e irreversível aos futuros investimentos no Brasil. 

Nos últimos 10 anos a sustentabilidade entrou na pauta das empresas de modo mais contundente, mas agora vivemos um momento de transição, entende Katia Mello. “A construção civil, com todo o processo que viveu, está se reencontrando e é absolutamente imprescindível não tratarmos dos impactos ambientais, sociais e de governança”, destacou. A convidada explica que a nova geração de compradores possui propósitos definidos e consomem marcas que pensam em sustentabilidade na sociedade. “Empresas que tenham dificuldade para se reinventar à nova realidade, irão sofrer”, reforçou.

As certificações na construção civil

De acordo com o convidado Rafael Tello, certificações na construção possuem o mesmo papel: segurança. “Seja ambiental, social ou de governança, a certificação tem o objetivo de mostrar qual o resultado desperta confiança aos investidores”, informou. O Diretor da WATU Sustentabilidade garante que isso não é tudo, pois “o fundamental é incorporar o que a certificação promove em nosso dia a dia”, explanou. 

Segundo Vitor Bidetti, o mundo dos investimentos enxerga os certificados como fundamentais. “O investimento nisso não é uma despesa”, manifestou. É justamente no bolso onde mora o temor. Hugo Rosa disse que uma das várias questões levantadas diante de projetos ESG é sobre os custos. “Quando se faz um projeto bem feito do ponto de vista ambiental, eventualmente se gasta um pouco mais, porém, os valores ao longo da vida do empreendimento serão menores”, mostrou.

Os convidados também pontuaram quais são os aspectos relevantes de governança que devem ser considerados dentro do sistema ESG. Katia Mello ressalta a importância de sermos verdadeiros. “Nós temos uma vertente que trabalha com o poder público e cada vez mais investimos em processos transparentes com mecanismos que vão se colaborando”, apontou. A sócia da Diagonal garante que hoje o foco precisa estar nas pessoas e suas relações. Pensando nos colaboradores, Rafael Tello entende que a base dos relacionamentos deve estar na ética. “É necessário e fundamental essa diversidade, entendendo que a inovação só existe dessa maneira pois cria-se oportunidades”, finalizou.  

Os princípios ESG mudam a visão de investidores e apresentam oportunidades significativas ao mercado brasileiro da construção civil. São tendências globais aceleradas pela pandemia que apresentam soluções potenciais ao ambiente e a sociedade. 

Confira o webinar tema deste texto:

ator Gabriela Souza

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