Tecnologias digitais adicionam eficiência aos canteiros
Gabriela Souza/24 de agosto de 2020
Construtoras de diferentes portes e localizações têm colhido bons frutos com implantação de tecnologias digitais em seus canteiros. Eficiência, segurança jurídica, produtividade e redução de custos são alguns ganhos obtidos com a aplicação de sistemas que permitem digitalizar processos, centralizar documentos e integrar informações.
Resultados como esses foram relatados por executivos que participaram do 4º Workstation da Rede Construção Digital Industrializada (RCDI), realizado no último dia 11 de agosto em plataforma online. A RCDI é uma iniciativa do enredes para promover a cultura de inovação tecnológica e a digitalização na construção civil brasileira. Atualmente, 56 empresas compõem a rede, entre fabricantes, projetistas, incorporadoras, construtoras e empresas de tecnologia de diferentes regiões do país.
INFORMAÇÕES CENTRALIZADAS
Na construtora e incorporadora Even, um sistema de catraca inteligente vem ajudando a solucionar problemas como rotatividade de colaboradores, alto custo fixo e muito tempo de obra dedicado ao controle de equipamentos e procedimentos. “Com uma ferramenta computacional (Autodoc GD4), o controle de acesso deixou de ser um simples controle de entrada e saída de pessoas no canteiro, para se transformar em um sistema de validação inteligente, incorporando várias disciplinas”, contou o diretor de operações da empresa, Marcelo Morais.
O sistema utilizado pela Even realiza a análise e a aprovação automática de documentos trabalhistas e fiscais. Além disso, incorpora uma agenda de treinamentos para assegurar que todos os trabalhadores tenham sido previamente treinados. “O nosso controle de acesso também inclui um componente social importante, garantindo que o trabalhador no canteiro esteja sendo devidamente pago e, até mesmo, auxiliando a implantação de protocolos contra a Covid-19”, revelou Morais.
De acordo com o diretor da Even, a implantação da ferramenta, em 2014, evoluiu com a integração de várias áreas críticas da empresa em um único sistema. “Quando começamos, havia a preocupação de evitar gargalos, já que seria necessário dar conta de gerenciar mais de 300 fornecedores e 2 mil funcionários. Mas a robustez da tecnologia e o desenvolvimento de um processo interno de análise critica permitem à solução fazer o cruzamento de informações em alta velocidade”, explicou.
CONSTRUTORA DIGITALIZADA
Focada em empreendimentos residenciais e comerciais em Florianópolis, a Dimas Construções também aposta na digitalização para eliminar dores como retrabalhos em obra por projetos desatualizados e dificuldades na gestão de documentos. “Estamos implantando inovações em procedimentos, produtos e vendas há oito anos. Nesse período, processos foram mapeados e a metodologia lean foi adotada. Também foram realizadas ações para digitalizar o canteiro de obras, partindo da identificação de fragilidades nos processos”, afirmou o gerente técnico da construtora, George Zanetti Vandresen.
A empresa catarinense trabalha com uma plataforma repositória de arquivos que permite o acesso à última versão atualizada do projeto por todos, e realiza o controle da documentação no canteiro (Sienge). Planilhas de Excel foram substituídas e a inspeção de serviços passou a ser feita em tablets. “Em um primeiro momento, investimos em tecnologia 1,24% do orçamento da obra. É algo que mesmo uma construtora pequena, que utiliza sistemas construtivos tradicionais, consegue fazer”, disse Vandresen.
PESQUISA SOBRE TECNOLOGIAS NO CANTEIRO
As experiências da Dimas e da Even confirmam um movimento identificado em um mapeamento realizado junto a construtoras da RCDI. Uma pesquisa sobre o uso de tecnologias digitais nas obras detectou que sistemas backoffice, aplicativos móveis e catracas inteligentes já possuem uma presença importante nessas empresas. A mesma sondagem mostrou, no entanto, que BIM nas dimensões 4D e 5D, RFID e capacetes inteligentes ainda têm aplicação muito modesta.
“De modo geral, percebemos uma aplicação forte de tecnologias na área de gestão de projetos, planejamento e controle da qualidade da obra. Notamos, porém, uma introdução baixa de soluções com foco na segurança no canteiro, no atendimento à Norma de Desempenho (ABNT NBR 15.575), e no monitoramento da saúde do trabalhador”, comentou Roberto de Souza, CEO do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE), ao apresentar os resultados do estudo.
MANUFATURA ADITIVA
Imagem fonte: Impressão 3D por extrusão direta (Apresentação Rafael Pillegi)
O Workstation da RCDI reuniu membros da academia que apresentaram o status das pesquisas em duas áreas: manufatura aditiva de materiais cimentícios e sistemas robóticos integrados ao lean construction.
Sobre a impressão 3D, “embora haja muito frisson sobre o assunto, é preciso ressaltar que imprimir produtos cimentícios em grandes quantidades é uma tarefa árdua”, destacou Rafael Pillegi, professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP (Poli USP).
Para ele, tudo indica que a impressão 3D vai superar em liberdade de formas, racionalização e economia, os métodos convencionais de produção de peças de concreto. Mas nos dias atuais, ainda é mais produtivo trabalhar no modo convencional. “Os ganhos em potencial com a impressão 3D são grandes, inclusive ambientais. Mas é preciso conter a euforia, porque tudo o que foi feito até o momento é prova de conceito”, disse Pillegi.
Em sua apresentação, o professor citou alguns desafios a serem superados para que a manufatura aditiva de cimentícios adquira maturidade. Um deles envolve o desenvolvimento do cabeçote, elemento que determina o volume de deposição e a resolução, e que ainda é um alvo de pesquisa. “Há, também, aspectos técnicos a serem solucionados, relacionados à consistência do material e à melhor forma de inserção do aço nas estruturas armadas, além da inexistência de códigos de construção e normalização”, citou o professor.
CONSTRUÇÃO ENXUTA E AUTOMAÇÃO
A pesquisadora Sara Gusmão Brissi, da Purdue University, trouxe para os debates do Workstation alguns resultados de seus estudos que envolvem a combinação da automação com os princípios do lean construction.
Segundo ela, os sistemas robóticos garantem um fluxo mais constante, melhoram a qualidade do produto final e têm muita sinergia com os preceitos da produção enxuta ao reduzir a variabilidade na construção e diminuir ciclos de produção.
Brissi citou uma série de interações práticas entre automação e lean. Entre elas, o uso de dispositivos vestíveis com rastreadores, que podem aumentar as habilidades físicas dos trabalhadores, reduzir a fadiga em atividades repetitivas e, por consequência, diminuir os riscos de acidentes, colaborando para a melhoria contínua.
“Mas algumas dessas interações só são viáveis quando se tem uma construção industrializada. Isso reforça a necessidade de investirmos mais na construção off-site, bem como no uso do BIM (Building Information Modeling), que é um pré-requisito essencial para atingir os recursos de automação e agregar outras tecnologias”, finalizou.
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