Sustentabilidade, industrialização e design impulsionam a adoção da madeira engenheirada

Gabriela Souza / 28 de junho de 2022

A necessidade de reduzir a pegada de carbono dos empreendimentos e a busca por sistemas construtivos mais racionais e inovadores têm impulsionado o uso da madeira engenheirada em todo o mundo. 

No Brasil, onde o potencial de produção madeireira é enorme, esse movimento também vem acontecendo, como exposto no quinto episódio da série Diálogos com a Construção, comandada por Bob de Souza, no canal do ENREDES no YouTube. 

O evento abordou os desafios para o desenvolvimento e a consolidação da madeira engenheirada no Brasil e contou com a participação de Nicolaos Theodorakis, CEO da Noah Wood Building Design, e de Ana Belizário, head de novos negócios da Urbem.

O que é a madeira engenheirada?

A madeira engenheirada é um sistema construtivo baseado em elementos de madeira composta, produzidos industrialmente a partir de lamelas de espécies coníferas agrupadas e coladas. Há dois produtos principais no universo da madeira engenheirada: o glulam ou MLC (madeira laminada colada), indicado para conformar pilares e vigas, e o CLT (cross laminated timber), desenvolvido em forma de painel para trabalhar como laje ou parede estrutural.

Segundo Ana Belizário, em países europeus, bem como no Japão, no Canadá e nos Estados Unidos, o interesse pela madeira engenheirada é exponencial em função de alguns atributos. O primeiro é a facilidade que a madeira tem para atender as exigências da agenda ESG (Environmental, Social and Governance). O material consegue estocar CO₂ em seu processo de crescimento, impactando positivamente a pegada de carbono dos empreendimentos. “Além disso, trata-se de um sistema construtivo industrializado, cujos elementos chegam prontos para a montagem, alinhado com os princípios do lean construction”, disse Belizário. “A madeira engenheirada proporciona, ainda, uma diferenciação de produto. Ela se conecta muito bem com clientes que estão antenados com sustentabilidade, inovação e design biofílico”, continuou a executiva da Urbem.

Sistema industrializado

As aplicações da madeira engenheirada começaram no hemisfério norte, em projetos horizontais. Contudo, o desenvolvimento do CLT há cerca de vinte anos permitiu a construção de edifícios multipavimentos altos, inclusive compondo estruturas híbridas.

A sustentabilidade do sistema construtivo também decorre da industrialização. “A madeira engenheirada agrega precisão à obra e isso faz com que se tenha um produto com melhor qualidade e menos desperdício”, pontuou Nicolaos Theodorakis, lembrando que em obras convencionais é comum registrar perdas de entre 20% e 25% de materiais.

O executivo da Noah observa uma tendência junto aos investidores imobiliários de priorizar redução de riscos e uma TIR (taxa interna de retorno) mais favorável. “Nesse sentido, a madeira engenheirada se destaca ao permitir construir mais rápido. O ativo começa a render antes e o ciclo econômico é abreviado”, disse Theodorakis. Segundo estudos da Noah, por permitir processos de construção em paralelo, as obras com madeira engenheirada são pelo menos 25% mais rápidas. “A depender da tipologia e do tamanho da obra, podemos chegar à redução de 50% do tempo de execução”, afirmou Theodorakis.

Barreiras à consolidação da madeira engenheirada

Enquanto no hemisfério norte já há diversos empreendimentos erguidos com madeira engenheirada, no Brasil, há vários projetos em gestação e alguns edifícios comerciais em processo de aprovação, em São Paulo. A expectativa é a de que em 2023 seja possível ver edifícios multipavimentos sendo erguidos com essa tecnologia.

As principais barreiras à consolidação da madeira engenheirada no país não são de ordem técnica, mas cultural. “Mas isso deve ser vencido, assim que os primeiros projetos começarem a sair do papel”, acredita Theodorakis.

Segundo Ana Belizário, há três dúvidas muito comuns quando o tema é a madeira engenheirada. A primeira delas é sobre o comportamento do material em caso de incêndio. “Embora seja combustível, a madeira pega fogo de forma previsível e lenta. Por isso, quando devidamente projetada, ela garante segurança estrutural em situação de incêndio”, disse Belizário.

Outro questionamento refere-se à durabilidade da madeira, especialmente diante do ataque de insetos xilófagos. “Os tratamentos disponíveis atualmente garantem durabilidade e são bastante consolidados. Portanto, estruturas de madeira têm plenas condições técnicas de atingir e superar uma vida útil de projeto (VUP) de 50 anos”, continuou a especialista da Urbem.

Há, ainda, quem tenha dúvidas sobre a origem da madeira utilizada e o risco dessa aplicação estimular o desmatamento. Belizário esclareceu que para a obtenção matéria-prima, a Urbem não acessa florestas nativas, nem biomas originais. “Utilizamos florestas plantadas, controladas, certificadas, específicas para usos comerciais”, disse ela, ressaltando que a fábrica da Urbem, com capacidade instalada de 100 mil m³, começa a entregar produtos em outubro deste ano.

Se você não conseguiu assistir ao vivo o quinto episódio da série Diálogos com a Construção, não deixe de conferir a gravação do encontro clicando aqui!

ator Gabriela Souza

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