Sustentabilidade e racionalização impulsionam a construção industrializada com madeira

Gabriela Souza / 21 de setembro de 2020

Na última década, a discussão sobre o aproveitamento da madeira com fins estruturais vem crescendo no Brasil e no mundo por dois motivos principais. O primeiro é a constatação de que se trata de um material renovável, que captura carbono da atmosfera, contribuindo para a redução do efeito estufa. Há, também, o desenvolvimento tecnológico dos sistemas industrializados baseados na madeira engenheirada. Pré-fabricadas, essas soluções permitiram atingir um novo patamar de racionalidade, precisão e produtividade. 

O status dessa evolução, os desafios e as possibilidades criadas foram debatidos durante o 5o Workstation do Enredes, realizado no último dia 15 de setembro, via plataforma online. “O evento reuniu profissionais com diferentes visões para oferecer um mergulho na construção industrializada com madeira”, comentou o CEO do CTE, Roberto de Souza.  

MADEIRA EM EMPREENDIMENTOS CORPORATIVOS

Em países como Suécia, Holanda, França, Reino Unido, Austrália e Estados Unidos já é possível encontrar edifícios multipavimentos com estrutura industrializada de madeira. “Esses cases evidenciam que a maturidade da tecnologia já aconteceu”, sintetizou Ricardo Loureiro, diretor de operações na Noah Wood Building Design. 

Além dos ganhos relacionados à redução de emissões, esses projetos tiram proveito estético da madeira e do fato de as pessoas se sentirem mais confortáveis em ambientes com materiais naturais. Iniciativas recentes, como a construção da sede do Walmart e do escritório da Adidas, ambos nos Estados Unidos, confirmam esse movimento. 

“Além de ser um material estrutural ótimo, a madeira engenheirada tem características que favorecem a sua industrialização, como a facilidade para fazer furos, cortes e fresas. Isso contribui para se ter um sistema que chega ao canteiro pronto para montagem e que gera uma obra limpa, com menos ruídos e muito mais veloz”, diz Loureiro.

O QUE É A MADEIRA ENGENHEIRADA?

“Nos dias de hoje é plenamente viável extrair de um projeto 2D em Autocad ou 3D em BIM as informações para usinagem de elementos estruturais de madeira em máquinas CNC (comando numérico computadorizado), assegurando precisão milimétrica”, comentou Ana Belizário, gerente de projetos e novos negócios na Amata. 

Ela conta que o termo madeira engenheirada refere-se a uma série de produtos que, após a extração da madeira, são submetidos a tratamentos e processos — de tratamentos químicos em autoclave a plainas, cortes, aplicação de adesivos e escaneamento computadorizado — que agregam qualidade e homogeneidade ao produto final. 

“Nesse amplo grupo, dois produtos vêm se destacando para edifícios multipavimentos: o CLT (cross lamineted timber, em inglês) e a MLC (madeira laminada colada), também conhecida como glulam”, destacou Belizário. 

DESAFIOS RELACIONADOS AO PROJETO

O uso bem-sucedido dos sistemas estruturais industrializados em madeira requer projetos com altíssimo grau de precisão, bem integrados e compatibilizados. 

“Quando falamos em sistemas industrializados com madeira engenheirada, a fase de montagem é meramente mecânica. A parte mais complexa é, sem dúvidas, o projeto”, comenta Alexandre Kröner, sócio diretor na Kröner & Zanutto Arquitetos. 

Segundo ele, um desafio é garantir que, a partir de um modelo BIM, se tenha processos absolutamente corretos e parametrizados. “Outros pontos de atenção são entender quais madeiras podem ser usadas, como cada solução se comporta perante condições climáticas diferentes, e como fazer as conexões das peças no canteiro”, continua o arquiteto. Ele revelou que está trabalhando no desenvolvimento de um projeto comercial para a HTB, em São Paulo. Com colunas em V e amplos vãos, o edifício tem com core de elevadores em concreto e o restante da estrutura em madeira engenheirada. 

Durante o Workstation do Enredes, Ricardo França, sócio-diretor do escritório França & Associados, apresentou modelos estruturais com madeira engenheirada com potencial de uso no Brasil. O primeiro deles, utilizado no International House, em Sidney, Austrália, tem colunas e vigas em glulam. Nesse caso, os painéis de CLT cumprem a função de laje, com uma capa de concreto de solidarização. “Essa tipologia é muito interessante para edifícios de escritórios e vem sendo utilizada no projeto da HTB”, conta França. 

Uma solução diferente foi utilizada em Londres, Reino Unido, no edifício Murray Grove. “Nesse residencial, as paredes externas portantes e os painéis de laje são em CLT, formando um esquema que é análogo ao de edifícios de alvenaria estrutural. A solidarização entre painéis se dá por parafusos em diagonal”, explicou França. 

Construção offsite

No Brasil, um sistema que vem crescendo em aplicações é o off-site em woodframe. Já há vários empreendimentos construídos esse sistema, com diferentes tipologias e altíssima velocidade de execução. “Todos esses projetos se beneficiam do custo mais competitivo resultante dos ganhos de produtividade intrínsecos à produção industrial em série”, disse José Márcio Fernandes, diretor de engenharia na Tecverde, cuja fábrica no Paraná tem capacidade de produzir 15 casas por dia. 

De acordo com o executivo, “as obras em woodframe, além de serem mais rápidas e gerarem menos resíduos, têm custo inferior, inclusive em comparação ao sistema paredes de concreto, quando considerados os custos indiretos”. 

Reforçando esse argumento, Felippe Spinello, diretor-executivo de operações na Prestes Construtora e Incorporadora, apresentou o case Flor de Lótus, residencial com 288 unidades construído em Londrina (PR) pelo Programa Minha Casa Minha Vida. Resultado de uma parceria entre Tecverde e Prestes, o empreendimento com conclusão prevista para 2021 vem sendo comercializado com o preço mais baixo da região. 

“Os ganhos obtidos com a construção off-site foram enormes. Podemos citar a menor exposição de caixa antes do lançamento e a redução de 30% do efetivo alocado no canteiro, além do maior controle sobre os custos”, comentou Spinello. Segundo ele, também foram registrados ganhos de qualidade. “Tanto que, no momento da entrega, a gente espera atingir 100% de aceite na primeira vistoria do cliente”, revelou. 

Para saber mais, acesse o texto: Madeira engenheirada: você conhece essa nova tecnologia construtiva?

ator Gabriela Souza

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