Saúde, mobilidade e interação com a natureza são requisitos para as cidades do futuro

Gabriela Souza / 11 de fevereiro de 2022

Mais do que tecnológica e conectada, a cidade do futuro é aquela que consegue ser eficiente na utilização do solo e de recursos naturais, é economicamente sustentável e capaz de garantir saúde e bem-estar a seus usuários. Os desafios para a produção desse tipo de ocupação foram discutidos na mesa-redonda “Caminhos para o Desenvolvimento Urbano Sustentável”, mediada por Sandra Leise, CEO do Cidad3. O evento integrou a vasta programação do 16º EDG — Encontro de Diretores e Gestores da Construção, promovido pelo CTE enredes no final de 2021.

José Roberto Geraldini Júnior, conselheiro titular do Conselho de Arquitetura & Urbanismo (CAU), comentou que pouca evolução foi observada  no Brasil com relação ao urbanismo desde o Plano Piloto de Lúcio Costa para Brasília. “De lá para cá, vimos a manutenção de um modelo de desenvolvimento que intensifica as desigualdades sociais e com muitos problemas de infraestrutura”, disse ele. Segundo o arquiteto, o mundo está em ponto de virada, impulsionado por novas tecnologias como drones para a entrega de mercadorias e veículos autônomos capazes de transportar passageiros e resolver gargalos de mobilidade.

Nesse sentido, alguns projetos inovadores servem de inspiração para uma mudança de paradigma. É o caso do The Line, na Arábia Saudita, conjunto urbano que prevê o uso exclusivo de energias limpas e níveis subterrâneos para circulação de mercadorias e de pessoas. “No Brasil, também temos empreendimentos com soluções para reduzir situações de conflito no trânsito e drones combinados a patinetes elétricos para diminuir o tráfego de motocicletas”, destacou Geraldini.

Tecnologia + planejamento

Myriam Tschiptschin, gerente da Unidade Smart Cities do CTE, citou algumas demandas que já vinham se destacando como tendências em todo o mundo, mas que foram intensificadas pela pandemia de Covid-19. Entre elas, a busca pelo equilíbrio com a natureza e por resiliência urbana permitindo às cidades estarem mais aptas a responder às transformações e às crises. “Também vimos maior valorização das estratégias de promoção de saúde e bem-estar, além da ênfase à economia colaborativa”, revelou Tschiptschin.

De acordo com a gerente do CTE, as ações baseadas em tecnologias digitais são um apoio importante para produzir cidades que respondam às questões da atualidade e do futuro. Contudo, não se pode prescindir de estratégias de planejamento urbano. Ela citou o caso de cidades que têm instalado sensores IoT (Internet das Coisas) em bueiros. “Essa é uma estratégia importante para otimizar a operação de limpeza, mas isoladamente não resolve o problema de drenagem urbana. Para isso, precisamos resgatar o ciclo hidrológico das águas através do aumento de superfícies permeáveis”, comentou Tschiptschin.

Cidades mais inteligentes

“A tecnologia certamente irá chegar às nossas cidades, mas enquanto não resolvermos problemas de saneamento e drenagem, não poderemos dizer que temos smart cities”, ponderou Paulo Takito, sócio e diretor de planejamento urbano da Urban Systems. Ele lembrou que outra condição para a construção de cidades e bairros inteligentes é dispor de uma base de dados consistente para subsidiar o design urbano. “Precisamos dessa inteligência prévia para entender para quem vamos desenhar e o que precisa ser desenhado”, continuou Takito.

Envolvido no desenvolvimento de localidades como Granja Marileusa, em Uberlândia (MG) e Biotic em Brasília (DF), Charbel Capaz, sócio-diretor no DEF Projetos, falou sobre como seu escritório tem trabalhado para garantir percepção de bem-estar pelos usuários dos espaços urbanos.

Entre as iniciativas incorporadas à concepção dos projetos destaca-se a abordagem integrada com a natureza, visando explorar as possibilidades para abrigar infraestrutura verde e azul. “Para produzir um tecido urbano mais saudável, propomos usos mistos, com diferentes produtos imobiliários, densidades variadas e diversidade social”, disse Capaz. “Com relação à mobilidade, priorizamos áreas mais permeáveis e caminháveis, bem como valorizamos as fachadas ativas”, continuou o arquiteto, lembrando que todas as iniciativas devem ser acompanhadas de governança.

Promovido pelo CTE enredes, o 16º EDG reuniu a alta direção das empresas da construção civil para debater temas quentes e urgentes para o setor.  Clique aqui e confira outras informações sobre o evento.

ator Gabriela Souza

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