Saúde, bem-estar e qualidade ambiental ganham ênfase no pós-pandemia

Gabriela Souza / 15 de dezembro de 2021

A preocupação com a qualidade ambiental dos espaços construídos e com a saúde dos usuários é um movimento que, embora viesse adquirindo tração nos últimos anos, foi impulsionado pela pandemia de Covid-19. Preocupações com a salubridade dos edifícios ganharam maior relevância e processos de certificação com foco no bem-estar dos usuários passaram a ser mais valorizadas.

O estudo sobre o impacto dos espaços físicos na saúde das pessoas teve um capítulo importante no final dos anos 1970, quando veteranos de guerra norte-americanos adoeceram, e alguns morreram, por contato com uma bactéria, posteriormente batizada de legionella. As investigações mostraram que a contaminação se deu no sistema de aquecimento do hotel em que os ex-combatentes se reuniram, na Filadélfia, EUA. 

“No Brasil, em 1998, a morte do ministro das comunicações Sérgio Motta também por esse tipo de contaminação jogou mais luz sobre a relação entre a qualidade ambiental e a saúde dos ocupantes”, disse Rafael Lazzarini, diretor da Unidade de Sustentabilidade do CTE. Ele contou que desde então regulamentos e diretrizes foram definidos para assegurar maior proteção aos usuários dos edifícios.

Lazzarini foi mediador e palestrante do 8.º Workstation da Rede Construção Sustentável (RCS), realizado em 23 de novembro pelo CTE enredes. Na ocasião, ele listou as principais variáveis que interferem na qualidade dos ambientes construídos. Entre elas, ar, iluminação, acústica, biofilia e design ativo.

“Falar em saúde e bem-estar também é falar sobre perdas e ganhos financeiros”, destacou Lazzarini. Ele comentou que, em todo o mundo, são estimadas perdas bilionárias por conta de improdutividade e do absenteísmo gerados por edifícios doentes. “Além disso, sabemos que o ar de boa qualidade eleva a produtividade das equipes de 3 a 18%, reduzindo as despesas com saúde e afastamentos. Outras pesquisas indicam que a biofilia aumenta em 6% a produtividade e em 15% a sensação de bem-estar nos escritórios”, citou o diretor do CTE. 

Certificações de saúde e bem-estar

É neste contexto que se inserem os referenciais de saúde e bem-estar, como Well e Fitwell. “Hoje, quem construir um edifício triple A sem certificação de sustentabilidade e de saúde e bem-estar está fadado a ter um ativo depreciado em sua origem”, alertou Manoel Gameiro, diretor nacional de vendas da Ecoquest. Em sua fala durante o Workstation, ele comentou as novas tecnologias, como a ionização rádio catalítica, capazes de inativar os vírus e bactérias do ar e das superfícies. “Essas soluções serão fundamentais para os empreendimentos obterem o equilíbrio entre eficiência energética e boas taxas de renovação de ar”, afirmou ele.

Ainda com relação aos sistemas de ar condicionado, Gameiro enxerga duas tendências para um futuro próximo. A primeira é o incremento dos sistemas de medição, permitindo mensurar não apenas a temperatura, mas a presença de compostos orgânicos voláteis e outros contaminantes. “O controle desse sistema também deve passar para as mãos dos usuários, que chegarão ao escritório e, pelo celular, poderão saber se o ar está adequado para o uso”, disse o executivo da Ecoquest.

Exemplos práticos

A combinação  inteligente de estratégias high tech e low tech é uma das rotas para obter ambientes mais saudáveis para seus usuários. “Por muito tempo, a arquitetura se distanciou de biofilia e da biomimética por motivos ligados a custos e prazos. Hoje, temos a oportunidade de resgatar essas práticas de sucesso e combiná-las com novas tecnologias que permitem o desenvolvimento de soluções mais eficientes”, comentou o arquiteto e engenheiro, Lula Gouveia, sócio do Superlimão Studio. Para ilustrar sua fala, ele citou o projeto realizado para a Toca do Urso, bar da cervejaria Colorado em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.  

O espaço, que simula uma caverna, se baseou na arquitetura vernacular e em estudos detalhados de ventilação e insolação para criar um microclima agradável em uma região extremamente quente. O projeto também lançou mão de estratégias para reutilizar e ressignificar materiais existentes. “Os melhores resultados vêm da sabedoria de utilizar aquilo que comprovadamente dá certo, incorporando tecnologias para irmos além”, resumiu Gouveia.

Outro projeto de destaque é sede do IFood, em Osasco, SP, certificada com duas estrelas Fitwell com consultoria do CTE. Lucas Lopes, coordenador de EHS (Environment, Health, and Safety) e Facilities no IFood, mostrou como as intervenções realizadas no local vêm contribuindo para que os colaboradores desenvolvam suas atividades com mais saúde, produtividade e satisfação.

Com 12 mil metros quadrados construídos, a sede do iFood possui sete pavimentos. Entre as estratégias desenvolvidas para os escritórios da empresa destacam-se o incentivo à prática de atividades físicas, a restruturação do cardápio dos refeitórios em alinhamento aos preceitos da alimentação saudável e o aprimoramento de procedimentos operacionais para melhorar a qualidade do ar interno e da água. 

Encerrando as atividades do Workstation, Virgínia Sodré, sócia-diretora da Infitity Tech, falou aos participantes sobre o conceito de Gestão Integrada de Água. A ideia é aumentar a eficiência e reduzir impactos nas bacias hidrográficas por meio de uma combinação de ações que começam por uma auditoria hídrica e passam por soluções para conservação de água, exploração de fontes alternativas, gestão de águas pluviais e construção de infraestrutura verde.

Para exemplificar, ela citou o projeto de gestão e conservação hídrica realizado para o Catarina Fashion Outlet, em São Roque, SP, que permitirá ao empreendimento atingir a condição de Net Zero Water e zerar seus impactos na bacia hidrográfica. O centro de compras, que capta água potável de poços subterrâneos, conseguiu reduzir em 57% o consumo de água potável, bem como o lançamento de efluentes. 

ator Gabriela Souza

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