RCD aborda aplicações no mercado imobiliário e na indústria
Enquanto caminha rumo a transformação digital, o setor da construção tem uma série de oportunidades em tecnologias disponíveis no mercado. As realidades virtual e aumentada, por exemplo, podem colaborar tanto com o desenvolvimento, execução e apresentação de projetos imobiliários, como em ações de manutenção na indústria. Para debater esse tema, a Estação de Trabalho da Rede Construção Digital (RCD), realizada no dia 16/10, no Espaço São Paulo Center, reuniu especialistas e representantes da cadeia produtiva.
Por meio dessas duas tecnologias, dados virtuais ou físicos – modelados em 3D e transformados em dados digitais – são utilizados para melhorar a experiência de profissionais e clientes. De acordo com cada realidade, há duas possibilidades: inserção de informação real em ambiente digital, ou de informação digital em ambiente real – os chamados estados mistos. Quem explica é a head de estratégia e desenvolvimento de negócios da Augmentecture, Amanda Gouveia.
Segundo Amanda, há uma diferença entre elas. A realidade virtual visa a imersão. “O corpo da pessoa está no ambiente físico, mas a mente em uma realidade paralela”, explica. Isso acontece quando se utiliza os óculos 3D, por exemplo. Já a realidade aumentada traz os dados digitais para o mundo físico, por meio de smartphone ou tablet. “É possível interagir e manipular o modelo de um edifício imobiliário, por exemplo, inclusive visualizar a sua parte interna”, diz.
Ambas não são novas. A realidade virtual já era aproveitada pelas forças aéreas americanas desde antes da década de 1920 para simulação de aviões. Já a realidade aumentada surgiu posteriormente, em 1991, como uma derivação. “A partir do potencial da realidade virtual, foi possível perceber como ela poderia agregar estando mista no ambiente físico. Então, os modelos digitalizados passaram a ser inseridos no ambiente físico”, conta Amanda.
Aos poucos, o setor da construção civil começa a empregar esses recursos nos negócios. A head de marketing e vendas da Augmentecture, Aline Rocha, explica que a realidade virtual pode ser aplicada para inovar no desenvolvimento, mas também na apresentação de projetos imobiliários. “É possível fazer uma perspectiva fotorrealista, por exemplo, para ver como será dentro dos ambientes, facilitando a vida do projetista e trazendo um diferencial para os clientes”, afirma.
“A partir do potencial da realidade virtual, foi possível perceber como ela poderia agregar estando mista no ambiente físico: os modelos digitalizados passaram a ser inseridos no ambiente físico.”Amanda Gouveia, Head de Estratégia e Desenvolvimento de Negócios da AUGmentecture na foto com Aline Rocha, Head de Marketing e Vendas
Entre os pontos positivos da realidade virtual estão o realismo, baixo custo, segurança das informações (pois são armazenadas na nuvem) e a possibilidade de utilizá-la sem internet. Por outro lado, pode não ser compatível com todo o público, devido a limitações de altura ou por questões médicas, além do alto custo dos dispositivos móveis.
Já a realidade aumentada, além de colaborar com o desenvolvimento e a apresentação, também pode contribuir com a execução e compatibilização de projetos. De acordo com Aline, se antes os arquitetos costumavam fazer várias maquetes, hoje podem partir para um viés mais sustentável, com a economia desses materiais, usando a realidade aumentada por meio da informação digital que já está disponível na maioria das construtoras e escritórios de arquitetura do país. “Essa tecnologia possibilita adentrar os modelos e ter uma visualização de acordo com o que foi projetado no BIM, com uma escala macro do urbanismo, por exemplo”.
Neste sentido, pode ser fundamental na compatibilização de projetos. “Quem nunca teve dificuldade de compatibilizar ar condicionado, elétrica e hidráulica no forro? É muito mais complicado fazer isso em um ambiente bidimensional, onde há várias linhas que se cruzam e não cabem no mesmo lugar”, argumenta.
Apesar de o BIM (Modelagem da Informação da Construção) e do Revit auxiliarem neste trabalho, o Sketchup, um dos softwares mais utilizados no mundo, por ter a versão gratuita, não tem nenhum aviso de erro. “Mesmo com o BIM e o Revit, por mais que você veja a informação na tela do computador, não é possível manipulá-la da mesma forma que em uma maquete”, explica. Neste sentido, a realidade aumentada se torna primordial.
Em relação a apresentação de projetos, atualmente as construtoras também já podem criar flyers personalizados dos seus empreendimentos com a realidade aumentada. “É uma inovação que agrega e o cliente pode levar o modelo do empreendimento para casa”, afirma.
Essa tecnologia é fácil de ser utilizada, apresenta baixo custo, e é acessível ao público. Entretanto, não é 100% compatível com todos os softwares, depende de atualização e não funciona sem internet.
Mesmo com as todas as vantagens, a executiva reforça que ainda encontra dificuldades para inserir a realidade aumentada no mercado da construção. Hoje, o déficit brasileiro é de 3 anos, quando comparado aos Estados Unidos. “Utilizar essa tecnologia no escritório de arquitetura ou construtora é uma tomada de decisão que deve partir da diretoria, porque interfere na forma como a empresa se posiciona diante da tecnologia. E essa é a maior dificuldade”, conta Aline.
Apesar disso, acredita que o futuro dessa tecnologia no setor seja promissor. “Cada vez mais as empresas estão aderindo e se abrindo para esse mercado, porque o público pede essa interação. O perfil do cliente muda e a indústria tem que se moldar.”
Há 4 anos no mercado, a Augmentecture, empresa de origem americana, disponibiliza uma plataforma exclusiva de realidade aumentada para a indústria da construção civil, com oferta de pacotes personalizados, com contas individuais ou para grupos. “Por ser compatível com IOS e Android, a plataforma possibilita aos clientes ver as maquetes digitais de qualquer lugar”, diz.
Fim do decorado
De olho no potencial do mercado de tecnologias digitais, a MRV Engenharia criou há um ano o projeto “My Home Experience”, que visa substituir os famosos apartamentos decorados, por realidade virtual, rompendo um paradigma do mercado imobiliário.
O gerente de marketing da MRV, Henrri Verge, explica que a partir de uma parceria com a empresa IM designs, foi possível trazer a tecnologia dos vídeos games para o setor, modelar os apartamentos decorados e proporcionar a interação com os clientes.
O projeto já foi implantado em pontos de venda de três cidades – Sertãozinho (SP), Jaraguá do Sul (SC) e Campo Grande (MS) – e deve chegar a mais 20 cidades até o final de 2018. “Com essa tecnologia, o cliente tem uma experiência única, com possibilidades exponenciais e mais de 800 combinações nos apartamentos”, diz.
“Cada vez mais, minhas lojas vão se transformar em grandes showrooms, onde o cliente vai poder ter uma experimentação da marca e dos produtos.”Henrri Verge, Gerente de Marketing da MRV
Segundo Verge, a experiência tem superado as expectativas. “No início, tínhamos o sentimento de que poderia haver uma barreira, porque o cliente sai do contato físico e vai para algo totalmente virtual. Mas está sendo surpreendente, porque o cliente percebe que o ambiente é transportado para ele, e ele participa daquele mundo efetivamente”, conta.
Além disso, a realidade virtual traz uma riqueza de detalhes para o cliente. “É possível observar a pedra que está instalada na cozinha, os detalhes dos metais e as texturas. É muito rico”, explica.
O executivo conta que hoje a MRV Engenharia tem cerca de 170 apartamentos decorados, o que gera um custo aproximado de R$ 100 mil, sem contar as despesas com manutenção. Para implantar a realidade virtual, a empresa necessita apenas de uma área vazia dentro dos pontos de venda, óculos 3D e uma mochila com equipamento. “O custo é baixo, estamos gastando menos de um terço do apartamento. Em termos de marketing, existe um ganho que ainda não conseguimos mensurar.”
Mas apesar da inovação, Verge reforça que os plantões de vendas não irão acabar, mas passar por uma transformação. “Eles vão trazer experiências para o cliente. Cada vez mais, minhas lojas vão se transformar em grandes showrooms, onde o cliente vai poder ter uma experimentação da marca e dos produtos”, ressalta.
Tecnologia na indústria
Com o objetivo de melhorar as operações de manutenção de elevadores, a thyssenkrupp passou a investir há cerca de um ano no uso de dispositivos de realidade mista. Segundo o coordenador de serviços da Filial São Paulo/Capital, Éolo Marcio Betiol, a solução oferece um novo olhar aos técnicos de campo que podem otimizar o modo como se executa a manutenção, com aumento da produtividade.
“No ambiente virtual é possível consultar, por meio de uma chamada de vídeo, um engenheiro da empresa que remotamente poderá auxiliá-lo de qualquer outro lugar, com acesso às mesmas imagens que o técnico tem do local onde está executando a manutenção”, atesta Betiol. Com a tecnologia, foi possível garantir mais velocidade na resolução dos problemas nos elevadores e, por consequência, melhorar a satisfação do cliente, diminuindo o tempo de inatividade do elevador.
O dispositivo de realidade mista pode ser usado de forma independente ou como um complemento do MAX, primeira solução de manutenção preditiva de elevadores, lançada pela thyssenkrupp, a partir de soluções de inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT) da plataforma de nuvem Microsoft Azure. “No Brasil, unidades piloto equipadas com MAX já estão em funcionamento, atuando de forma preditiva. Os dados enviados para a nuvem da Microsoft são analisados a partir de um algoritmo exclusivo, resultando em diagnósticos precisos capazes de prever falhas com antecedência, permitindo que os técnicos da thyssenkrupp possam atuar nos equipamentos antes mesmo da ocorrência de problemas relevantes, evitando que o elevador fique fora de operação”, complementa o Coordenador da thyssenkrupp.
“A principal vantagem da realidade aumentada é trazer agilidade, segurança e confiabilidade.”Marcos Augusto, consultor da Schneider Electric
Também com foco na manutenção, a Schneider Electric, líder global na transformação digital em gestão da energia elétrica e automação, tem investido em realidade aumentada. Lançou recentemente o EcoStruxure Augmented Operator Adivsor, um software que sobrepõe dados em tempo real e objetos virtuais diante de quadros elétricos ou máquinas, dando aos operadores e técnicos acesso imediato a informação por meio de tablets. “A principal vantagem da realidade aumentada é trazer agilidade, segurança e confiabilidade”, explica o consultor Marcos Augusto. Com a tecnologia, é possível reduzir o tempo gasto por engenheiros na busca por dados técnicos para resolver o problema, pois é possível anexar a documentação do equipamento na própria ferramenta.
Outra vantagem, é que não é preciso mais abrir os painéis ou entrar nos ambientes, se expondo a locais confinados com risco explosivo ou mesmo em subestações elétricas. “Ela diminui ou anula o risco do profissional, porque ele vai continuar a distância, em local seguro, realizando o trabalho por meio da realidade aumentada”, diz.
Em relação a confiabilidade, uma vez criado um procedimento de manutenção, o técnico vai adotá-lo sempre, sem tentar resolver na hora. “A manutenção será mais tranquila, seguindo o passo a passo. Mais segura, com ferramentas adequadas, e mais rápida, seguindo o procedimento adequado”, alega.
Estação de trabalho RCD
Neste encontro também foi discutido como inserir startups nas empresas de construção, com apresentação do CEO da Fábrica de Startups, Hector Gusmão, e dos CEOs das seguintes startups: Banib (Renato Rodrigues Oliveira), Zatio (Cláudio Abreu), Play2Sell (Felipe Vista) e XEng (Augusto Frois).
Após as exposições, os participantes debateram e votaram em projetos prioritários. São eles: realidade aumentada para entregar o manual do proprietário e personalização de apartamentos modelo em 3D para alto padrão. Um grupo formado pelas empresas Augmentecture, Cyrela, Gaaz, IM Design, R Yazbek e Tarjab deve dar andamento ao debate sobre os temas.
Veja o vídeo desta estação de trabalho da Rede Construção Digital
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