Pré-fabricados de concreto: viabilidade financeira passa por modelos alternativos de contratação

Gabriela Souza / 10 de novembro de 2022

Por combinarem alta velocidade de execução com a possibilidade de vencer amplos vãos, os pré-fabricados de concreto sempre tiveram uma participação forte na construção de galpões logísticos, indústrias, supermercados e shoppings centers. Isso não significa que essa solução construtiva não possa agregar vantagens ao setor imobiliário. 

Essa foi uma das conclusões da conversa que Bob de Souza, CEO do CTE, teve com Felipe Cassol, CEO da Cassol Pré-Fabricados. O bate-papo fez parte do episódio 14 do Diálogos da Construção, live semanal realizada pelo CTE Enredes em seu canal no YouTube. 

Segundo Cassol, que também preside o Conselho Estratégico da Associação Brasileira da Construção Industrializada em Concreto (Abcic), o mercado imobiliário precisa da pré-fabricação em resposta à escassez de mão de obra e à necessidade de elevar a produtividade. 

“Todas as soluções industrializadas, não só os pré-fabricados de concreto, adquiriram um novo status pós-pandemia”, afirma o executivo do grupo empresarial que tem uma trajetória de 64 anos. “Nosso posicionamento é forte nos segmentos comercial e industrial, mas queremos aprender mais e encontrar parceiros para desenvolver soluções também para o setor residencial”, diz ele.

Aplicações de pré-fabricados de concreto

Durante a live, Cassol apresentou uma série de empreendimentos erguidos no Brasil com elementos estruturais pré-fabricados de concreto. Entre eles, o Shopping Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, com 16 pavimentos e 66 m de altura, com núcleo rígido e estrutura pré-fabricada, incluindo lajes, vigas e pilares. 

Outro case que serve como referência técnica é o edifício-sede da Odebrecht, em São Paulo. A torre principal foi erguida com estrutura convencional de concreto e painéis arquitetônicos industrializados. Já o edifício-garagem foi inteiramente construído com pré-fabricados de concreto.

Características como eficiência estrutural, possibilidade de usar menos pilares, resistência ao fogo, baixo custo de manutenção e velocidade de construção justificam a aplicação de pré-fabricados de concreto na construção de edifícios-garagem. 

Outra aplicação crescente desse sistema construtivo é em estruturas híbridas, em conjunto com elementos de aço, de light steel frame, de concreto moldado in loco ou de madeira engenheirada. A ideia é permitir ao empreendimento tirar proveito das vantagens de diferentes materiais estruturais. Em edifícios de escritórios, por exemplo, em que se exige flexibilidade de layout, uma combinação recorrente é a utilização de lajes protendidas alveolares pré-fabricadas (capazes de vencer grandes vãos) com pilares moldados in loco.

“O índice de industrialização na construção brasileira não passa de 8%, o que é muito pouco”, lamenta Felipe Cassol, reforçando que a barreira para o uso mais amplo dos pré-fabricados de concreto não é de ordem técnica, mas de mercado. 

“Há múltiplas soluções desenvolvidas no exterior e no Brasil, inclusive para edifícios altos. O problema é que precisamos desenvolver um modelo de negócio baseado em parceria entre construtor e pré-fabricador, almejando ganho de escala e desenvolvimento tecnológico”, afirma.“Os projetos precisam nascer considerando o pré-fabricado e, muitas vezes, serem elaborados em co-criação com o fornecedor de pré-fabricados, em uma operação ganha-ganha”, continua o dirigente da Abcic. 

Na visão do CEO da Cassol, há uma questão de estrutura de mercado que precisa ser resolvida. “O pré-fabricador não pode ser contratado no modelo leilão”, ressalta Felipe Cassol, que defende a exploração de modelos de contratação alternativos. Um exemplo, nesse sentido, é a contratação integrada, ou seja, quando o pré-fabricador é envolvido desde a fase de projeto.

Outro “calcanhar de Aquiles” da industrialização em concreto é a logística de transporte. Isso porque lajes, vigas e pilares pré-fabricados de concreto perdem competitividade quando a obra está muito distante da indústria. “A partir de um raio de 300 km, se não houver uma boa estratégia, o custo do frete inviabiliza o negócio”, explica Cassol. Se você não conseguiu assistir ao vivo o bate-papo de Bob de Souza com Felipe Cassol, não deixe de conferir a gravação disponível no canal do enredes no YouTube! Aproveitamos para recomendar a leitura do E-book “Implementação do uso de pré-fabricados de concreto na construção imobiliária”, preparado pela Rede Construção Digital, Industrializada e Sustentável (RCDI+S), disponível para download gratuito.

ator Gabriela Souza

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