Os smart buildings e operação sustentável dos empreendimentos

Gabriela Souza / 4 de novembro de 2021

A oferta de tecnologias para tornar a operação dos edifícios mais sustentável e eficiente é cada vez mais ampla. No entanto, ainda há desafios a serem superados para uma utilização plena dessas soluções. A integração entre os múltiplos sistemas e a capacitação dos profissionais para a gestão condominial são alguns obstáculos a serem vencidos. Essa foi uma das conclusões do 7º Workstation promovido pela Rede Construção Sustentável (RCS). O evento, que aconteceu no dia 19 de outubro, teve a participação de profissionais das empresas associadas à Rede.

Wagner Oliveira, diretor da unidade de operação sustentável no CTE, discorreu sobre os edifícios inteligentes, aqueles que vão além do uso de automação e transformam as informações de operação em ações para proporcionar reduções de consumo e satisfação dos usuários. “Os smart buildings se diferenciam da automação pelas camadas de inteligência e pelos sistemas de comunicação que possuem. Estamos falando de softwares que operam com grande volume de dados usando tecnologias como machine learning e Internet das Coisas para identificar padrões e realizar ações automatizadas”, comentou Oliveira. 

Ele lembrou que as tecnologias smart conseguem endereçar uma série de questões dos edifícios, desde o conforto e bem-estar dos ocupantes — ao tratar de temas como qualidade do ar e avaliação de contaminantes — à performance energética e de equipamentos, passando pelo impacto na produtividade das equipes.

CONECTIVIDADE E CAPACITAÇÃO

O contexto tecnológico inevitavelmente amplia a exigência sobre os programas de manutenção, que precisam ser mais robustos, e sobre a gestão de facilities. José Roberto Muratori, diretor-executivo da Associação Brasileira de Automação Residencial e Predial (Aureside), mencionou alguns desafios a serem superados para viabilizar a operação eficiente dos edifícios, como a falta de pessoal capacitado para gestão condominial e a demanda crescente por conectividade de alta qualidade. 

Muratori enxerga, como tendência, uma mudança profunda nos padrões dos sistemas de gerenciamento e de automação dos prédios. “Realizar a integração de tantos equipamentos será um desafio a ser vencido pelos profissionais, incluindo projetistas, instaladores, programadores e gestores”, salientou o diretor da Aureside, reforçando que o nível de capacitação do pessoal envolvido nestas atividades ainda é insuficiente para atender a tantas transformações.

SENSORES EM OPERAÇÃO

Engana-se quem pensa que os smart buildings estão distantes da nossa realidade. A evolução tecnológica está batendo à porta, como mostrou Rafael Moura, gerente de aplicação e pós-venda na Mercato Automação. Em sua fala aos participantes do Workstation da RCS, ele citou o EZ Towers, empreendimento com duas torres triple A em São Paulo que conta com 440 medidores para o acompanhamento em tempo real de consumos de energia, água e gás, conectados a um software.

Para o gerente da Mercato, algumas tendências tecnológicas têm sido decisivas para tornar os smart buildings mais acessíveis. Entre elas, a Internet das Coisas, que reduz o custo de sensores e controladores, e o processamento de borda (Edge Computing), que desponta como alternativa para diminuir despesas com o processamento de informações em nuvem. “A ideia é que os dados das operações dos edifícios sejam coletados e tratados na borda. Com isso, somente aquilo que é relevante para a tomada de decisão seria enviado para a nuvem”, analisou Moura.

Na sequência, Evaldo Pisani, gerente técnico sênior na JLL, apresentou a visão de uma administradora que tem sob sua gestão 427 milhões de m² de propriedades. Segundo ele, em função da quantidade de tecnologia embarcada, já não é possível gerenciar um edifício de alto padrão sem automação sofisticada. “Esses sistemas permitem que a operação aconteça exatamente como o planejado em projeto e ajudam a mitigar, de forma rápida, eventuais desvios que levem a desperdícios e a perdas de eficiência”, comentou. Pisani informou que mais de 60% do portfólio sob gestão da JLL tem certificação ambiental e que a empresa trabalha para zerar as emissões de carbono em todos os seus empreendimentos até 2040.

RESULTADOS CONCRETOS

Concluindo a programação, André Mansur, gerente de operações na São Carlos Empreendimentos detalhou um projeto de sustentabilidade que, com pouco investimento, obteve índices consistentes de redução de água e de energia elétrica. Entre os mais de 400 mil m² de área bruta locável de seu portfólio, a São Carlos possui desde edifícios tecnológicos triple A, a prédios dos anos 1970-1990, alguns deles submetidos a retrofit e outros a intervenções pontuais visando maior eficiência da operação.

O primeiro passo do projeto, que contou com consultoria do CTE, contemplou a instalação de um ponto de medição de água e de energia em cada prédio. “O objetivo foi monitorar a operação em tempo real e entender os hábitos dos usuários para propor melhorias”, revelou Mansur. Com isso, a São Carlos obteve ganhos como redução do custo de energia em 13% no primeiro trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período em 2019. “Outro benefício detectado foi o ganho de eficiência mesmo em período de baixa ocupação decorrente da pandemia de Covid-19”, comentou Mansur. 

Segundo o gerente de operações, água e energia representam juntos ¼ do custo de operação dos edifícios. “Por isso mesmo, faz todo sentido atuar nessas duas frentes, conquistando benefícios ambientais e impactando positivamente as taxas condominiais”, concluiu.

ator Gabriela Souza

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