Materiais sustentáveis e certificações de produtos

Gabriela Souza / 23 de agosto de 2021

Realizado no último dia 10 de agosto, o 4o Workstation da Rede Construção Sustentável (RCS) debateu o desenvolvimento de materiais sustentáveis e processos como análise de ciclo de vida, declaração ambiental de produtos e economia circular.

Com ênfase na atuação da indústria, o evento contou com a participação de mais de 70 profissionais de empresas participantes da RCS. Na ocasião, eles tiveram a oportunidade de acompanhar seis apresentações que agregaram abordagens e visões complementares sobre o tema.

DECLARAÇÕES AMBIENTAIS

As principais documentações e certificações que versam sobre os materiais foram abordadas por Adriana Hansen, gerente de consultoria na Unidade de Sustentabilidade do CTE. Ela citou, por exemplo, a Health Product Declaration (HPD), que tem uma estrutura parecida com a das FISPs (Fichas de Segurança de Produtos Químicos), mas com um nível de detalhamento maior. “Independente da concentração do produto, a HPD informa qual é a sua periculosidade com o objetivo de fornecer informação transparente”, destacou Hansen.

Entre os sistemas de declarações que abordam o desenvolvimento sustentável dos materiais, ela mencionou, também, a Declaração Ambiental do Produto, uma avaliação de ciclo de vida verificada por terceira parte, que segue diretrizes de normas ISO. “Trata-se de um estudo técnico profundo com visão sistêmica e holística sobre o processo de fabricação do material para mensurar seus impactos ambientais”, argumentou Hansen.

Outra referência citada pela gerente do CTE é a certificação Cradle to Cradle, que trabalha o conceito de economia circular no processo de fabricação. “Esta é uma certificação bem criteriosa que vem impulsionando a indústria a desenvolver materiais recicláveis e compostáveis, que gerem menos riscos ambientais e à saúde humana”, explicou Hansen.

INICIATIVAS NA CADEIA DA CONSTRUÇÃO

Glória Dias, chefe de produção na Knauf, mostrou como a empresa trabalha as declarações ambientais de suas chapas de gesso. Verificados por um organismo independente, os documentos contemplam desde a descrição do produto e do seu uso, à análise de ciclo de vida, incluindo a quantificação da emissão de CO₂ e a porcentagem de energia despendida em cada etapa. “A maioria das nossas chapas foi ensaiada conforme a norma francesa que classifica esses produtos como A+, categoria que se refere aos materiais com os níveis mais baixos de emissões de COVs (compostos orgânicos voláteis)”, comentou Dias.

Ana Belizário, head de novos negócios na Amata, mostrou como a madeira engenheirada pode colaborar para a sustentabilidade das edificações e das cidades. “A construção civil é o segundo setor que mais emite CO₂, ficando atrás apenas da mobilidade. Se migrarmos para materiais que usam árvores como matéria-prima, podemos criar um círculo virtuoso com a substituição de materiais que emitem CO₂ pela madeira, que captura dióxido de carbono na atmosfera”, argumentou Belizário. Ela contou haver uma expansão muito forte do uso da madeira engenheirada, inclusive em edifícios altos, na Europa e nos Estados Unidos. “Em mercados mais desenvolvidos, como Áustria e Reino Unido, a participação da madeira engenheirada como solução estrutural já é de 12%”, comentou a executiva da Amata.

A madeira engenheirada consiste em um sistema baseado em dois produtos principais: a MLC (madeira laminada colada) e a CLT (madeira laminada cruzada), ambas fabricadas a partir de lamelas de árvores extraídas de florestas plantadas e certificadas. “Além da sustentabilidade, esse sistema construtivo se caracteriza pela eficiência, já que reduz em cerca de 40% o tempo de execução da obra e possui resistência equivalente à do concreto, mas com apenas 1/5 do peso”, complementou Belizário.

Cláudia Martins, diretora regional de vendas na Interface, apresentou a jornada da fabricante de carpetes em direção ao carbono negativo. Em locais onde possui fábricas, a empresa trabalha com um ciclo fechado baseado no aproveitamento de carpetes usados como matéria-prima para o desenvolvimento de novos produtos. “Para os países onde não temos fábrica, como o Brasil, estamos em busca de soluções”, revelou Martins.

Ela contou que, com foco em transparência, a empresa investe nas declarações ambientais de seus produtos. “Seria importante, contudo, que os especificadores de materiais pedissem, além dos testes de desempenho, análises de saúde e de impactos ambientais. Precisamos subir a régua nas especificações para contemplar, também, a pegada de carbono”, acrescentou Martins.

ECONOMIA CIRCULAR

A economia circular e as tendências em materiais sustentáveis foram os temas da fala de Carolina Piccin, diretora na MateriaLAB Design, empresa de consultoria que possui uma materioteca onde os profissionais criativos podem fazer pesquisas. 

De acordo com Piccin, a economia circular é uma maneira de pensar o modelo de produção e consumo de forma colaborativa e integrada. Ela se baseia em três focos de atenção: eliminar excedentes, o que cria oportunidade para explorar materiais mais leves e modulares; manter a vida útil dos produtos, contribuindo para um sistema de regeneração natural; e inovação, por meio do investimento em pesquisa e em parcerias de valor. “A ideia é fazer com que os objetos tenham o maior nível de utilidade e de valor o tempo todo. Para isso, precisamos entender a origem e o comportamento dos materiais, de modo a extrair o melhor deles”, disse Piccin. Segundo ela, os materiais derivados de vegetais e aqueles produzidos a partir de resíduos de outras indústrias estão entre as principais tendências para os próximos anos.

ANÁLISE DE CICLO DE VIDA DE EDIFÍCIOS

O 4o Workstation da Rede Construção Sustentável foi encerrado por Henrique Mendonça, life cycle designer na eTool, empresa de consultoria e comercialização de software para análise de ciclo de vida (ACV) aplicada às edificações. 

“O estudo de ACV permite identificar as potenciais áreas para melhorar o desempenho e reduzir impactos”, disse ele, reforçando que o principal valor do trabalho está em quantificar o desempenho ambiental com método científico. “A partir daí fica mais fácil decidir em qual melhoria investir para obter os resultados mais relevantes, bem como comunicar as ações tomadas com assertividade para evitar o greenwashing”, concluiu Mendonça.

A RCS é um ecossistema de inovação e de relacionamento setorial que conecta os principais agentes da cadeia produtiva com soluções e tecnologias sustentáveis para a construção. Fique atento às atualizações do nosso blog e às nossas redes sociais para não perder as novidades!

ator Gabriela Souza

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