Industrialização e os rumos da construção

Gabriela Souza / 14 de outubro de 2019

BASF e Procion Engenharia, integrantes da RCD, contam como têm contribuído para avançar a construção industrializada 

A construção convencional, ainda muito utilizada no Brasil, é frequentemente marcada por processos com custos elevados, baixo nível de planejamento, falta de mão de obra qualificada e altos índices de desperdícios. Logo, a construção industrializada surge como um fator determinante para a modernização do setor, que precisa estar preparado para acompanhar todas as novidades para melhorar os resultados e sobreviver em um mercado cada vez mais competitivo. 

Diversos profissionais do setor já compreendem as vantagens da industrialização e de como ela pode aumentar a produção e aprimorar o desempenho da atividade construtiva. “É por meio da industrialização que rompemos com modelos, processos e aplicações tradicionais e reduzimos tempo durante o processo de execução, resíduos, custos e utilizamos processos mais sustentáveis que exigem menos recursos naturais”, afirma Giancarlo Tomazim, Gerente de Estratégia da BASF na América do Sul. 

Para Luiz Olimpio Costi, fundador e sócio da Procion Engenharia, as empresas da cadeia produtiva precisam repensar e reinventar os seus negócios constantemente por uma questão de sobrevivência. “A industrialização é um vetor imperativo no sentido de atingirmos a performance desejada. A competição é acirrada e sem um monitoramento constante, avaliação do resultado, e eficiência comprovada, estamos fadados a sermos expulsos do mercado”, diz. 

Costi ainda ressalta a morosidade da construção civil em se industrializar. Para ele, o setor é último a formatar processos, a padronizar uso e forma de montagem de materiais, a buscar o limite de performance com controle da qualidade, a ter eficiência no uso dos recursos e a trabalhar de forma integrada com todos agentes da cadeia. “A condição do Brasil no mercado mundial, nos últimos 4 a 5 anos, prejudicou o que já vinha sendo uma demanda da construção: incorporar o processo de industrialização em todas as etapas. A impressão que se tem é que resistimos demais a mudanças, porém não há mais tempo a perder, tem que fazer acontecer de verdade! Agora, a água está no pescoço”, alerta. 

Apesar de ainda ser um desafio na construção brasileira, algumas empresas do setor já adotam princípios do processo de industrialização. A Procion Engenharia está em constante contato com a evolução dos produtos, das normas técnicas, dos formatos de execução, métodos de controle de qualidade, e principalmente, com custos e com eficiência na operação. “Temos procurado dar alternativas aos clientes, tanto na escolha das soluções de projetos, dos equipamentos e materiais na construção, quanto no cuidado para que a operação e manutenção futuras sejam as mais eficientes. Assim, buscamos inserir esses conceitos no processo do projeto,  para que a construção seja um processo industrializado, menos artesanal, com maiores resultados em qualidade, baixo custo e prazo compatível”, explica Costi. 

“Na BASF, as nossas inovações estão em produtos que atendem os 3 pilares da sustentabilidade: redução do consumo de água e energia, mais conforto térmico e acústico e aumentar a produtividade e durabilidade das construções. Essas soluções podem ser encontradas na CasaE a casa de ecoeficiência da BASF localizada na zona sul de São Paulo”, conta Giancarlo. 

Sob a ótica da industrialização, Giancarlo analisa que o futuro da construção depende do engajamento de ações governamentais que estimulem a indústria na redução de riscos e perdas para a implementação de novos processos, principalmente nas inovações tecnológicas digitais. “Além disso, as novas gerações estão mais abertas e buscando cada vez mais soluções inovadoras. são eles que vão disseminar e estimular as novas formas de construção, rompendo com os modelos tradicionais, e portanto trazendo um viés não só econômico, mas sustentável em cada etapa da cadeia de valor. A construção do futuro tende a ser mais rápida através de processos mais ágeis, com redução do custo de mão-de-obra e gerando menos resíduos e principalmente mais integrado, uma vez que o BIM ganhe cada vez mais notoriedade”. 

Para Costi, a construção precisa ser um processo totalmente formatado, no sentido industrial: os materiais tem que ter controle de qualidade amplo, desde a especificação, até a harmonia da aplicação na obra, considerando o fluxo de caixa da compra, estoque do canteiro, momento de aplicação e, principalmente, a manutenção preventiva. O engenheiro também ressalta que o BIM tem papel fundamental nesse processo. “Em um futuro próximo, projetos na plataforma BIM vão permitir o pleno exercício da função projeto, ou seja, a construção como montagem virtual plena,  com todos os exercícios possíveis de avaliação de eficiência no uso de recursos, de economia de materiais, de planejamento otimizado da execução e capacitação para eficiência máxima na manutenção e operação. O futuro da construção é a aplicação do processo BIM desde o projeto, permeando a construção, até o uso da edificação”, pontua Costi. 

Um estudo da McKinsey mostrou que os grandes projetos normalmente se estendem 20% além da data inicial de conclusão do projeto, e em geral estão 80% acima do orçamento. Para mudar este cenário e atingir uma industrialização mais satisfatória, Giancarlo afirma que a inovação é o caminho e deve ser um processo interno e fortemente integrado entre departamentos e liderança. “As pesquisas mostram que os líderes de grandes empresas acreditam que a inovação é um fator crucial para o sucesso e o futuro de suas companhias, porém ao serem questionados sobre o tempo que investem em inovação de processos e produtos, a dedicação de tempo é extremamente baixa. Adicionalmente, a qualificação e volatilidade da mão-de-obra ainda é um fator que está totalmente relacionado à produtividade do segmento, e há pouco engajamento das empresas para este tema”. 

Costi afirma que falta implantar, o quanto antes, a fase 4D do BIM. “Vamos atingir outro grau de industrialização quando o projeto for executado considerando os materiais no tempo de aplicação em obra e fazendo uso das ferramentas que o modelo permite. Falta consolidar  a consciência de que o processo de projeto e execução mudaram, que os ganhos são evidentes e implicam em um novo formato de desenvolvimento, e não em adaptação do processo antigo a apenas novas ferramentas e tecnologias”.

ator Gabriela Souza

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