Estratégias para elevar a produtividade da construção civil

Gabriela Souza / 16 de agosto de 2021

A baixa produtividade da construção civil, muito inferior a outros segmentos industriais, é um fator de preocupação para o setor, ainda mais em um contexto de aquecimento do mercado e aumento dos custos de materiais. 

“Em um cenário desafiador, é ainda mais importante as empresas depositarem energia e foco no aumento da produtividade, visando manter as margens de lucratividade dos seus negócios”, disse Roberto de Souza, CEO do CTE.

Para debater essa pauta tão relevante, o CTE enredes realizou no dia 5 de agosto, o 8° Webinar de 2021 com o tema “Produtividade no setor da construção”.

Mediado por Roberto de Souza, o evento contou com a participação de Patrícia Neves, gerente de produtividade e inovações da Tenda, Renato Mauro Filho, CEO da REM, e do professor da Poli-USP Ubiraci Espinelli de Souza, que também é diretor da Produtime e da Indicon. Ambos apresentaram boas práticas para mensurar e elevar a produtividade nos canteiros de obras.

PAREDES DE CONCRETO

Focada em empreendimentos residenciais de padrão econômico, a Tenda desenvolveu seu modelo de negócio baseado na abordagem industrial e em conceitos da engenharia de produção. Com o sistema paredes de concreto com moldes de alumínio, a construtora consegue concretar quatro apartamentos por dia e concluir 100% de uma torre (T+4) a cada 60 dias. “A forma de alumínio é como uma locomotiva. Todos os serviços que vêm antes dela precisam estar prontos. Da mesma forma, todas as atividades subsequentes, como as de acabamento, devem acompanhar esse ritmo”, explicou Patrícia Neves.

Para a gerente da Tenda, algumas práticas foram decisivas para a obtenção dessa velocidade. A primeira delas é a padronização de produtos. A construtora também utiliza, em sua maioria, mão de obra própria, o que favorece a otimização e a coordenação das atividades. Há, ainda, iniciativas off-site para suportar a produtividade do sistema construtivo. “Implantamos um centro de distribuição e transformação onde realizamos o recebimento de material, fabricamos kits elétricos e hidráulicos e fazemos a distribuição para as obras just in time”, conta Patrícia Neves. Como resultado desse combo de ações, a Tenda registrou redução de 40% no custo de construção em 2020 em comparação a 2013. 

VISÃO HOLÍSTICA

Na REM, a produtividade é abordada de forma ampla, incluindo o envolvimento e a capacitação de diferentes agentes, a medição e o acompanhamento rigoroso dos índices de produtividade, e a transformação digital. “A produtividade é impactada por processos administrativos, incluindo a forma como as pessoas trocam informação e gerenciam os projetos”, salientou Renato Mauro Filho, enfatizando a importância de evitar falhas de comunicação para garantir os melhores resultados. 

Embora atue em um segmento que requer elevado grau de personalização dos empreendimentos, a REM consegue se aproveitar de alguns sistemas construtivos pré-fabricados — como os painéis arquitetônicos de fachadas — graças ao desenvolvimento de projetos visando maximizar a produtividade. O VA433, na zona oeste de São Paulo, é um exemplo.  

O professor Ubiraci Espinelli de Souza reforçou a importância dos projetos para obter ganhos de produtividade. “Projetos de arquitetura, de estrutura e de instalações prediais podem e devem ser conduzidos incorporando características que priorizem a otimização dos equipamentos, a redução de mão de obra e o menor o consumo de materiais”, disse ele. 

POR ONDE COMEÇAR?

“Há uma janela de oportunidades enorme para melhorar a produtividade da construção civil. As estratégias podem contemplar desde o estudo de novas tecnologias para responder ao aumento do custo dos materiais, aos investimentos em digitalização, em especial no BIM”, disse Roberto de Souza.

O primeiro passo para implantação de um programa de gestão e aumento de produtividade é mensurar a produtividade real. “Independente do segmento de atuação, é preciso saber qual é a produtividade para depois intervir para melhorar”, explicou o professor Ubiraci. 

Segundo ele, parte-se, em seguida, para a criação de  intervenções baseadas no ciclo PDCA (do inglês Plan – Do – Check – Act ou Adjust). Realização de projeto de canteiro e de microplanejamento alinhado com a produtividade desejada são boas práticas a serem adotadas.

Em uma jornada de gestão da produtividade, as construtoras podem ter que priorizar algumas ações. Quando o foco é a mão de obra, a ordem é dar atenção aos serviços que são intensivos demandantes de homens.hora/m², como, por exemplo, a montagem de formas. Com relação aos materiais, o professor recomenda um olhar especial sobre as atividades que envolvem moldagem no canteiro. “Esses são os serviços que geram, por regra, mais perda de material incorporado e por resíduo”, destacou o diretor da Produtime e da Indicon.

Para as empresas que utilizam componentes pré-fabricados, vale priorizar a qualidade do projeto para evitar desperdício de produtividade. “Quando falamos em tempo de obra, a dica é atentar para as atividades que estão no caminho crítico e adotar ações para garantir que outros serviços acompanhem a velocidade ampliada, evitando gargalos”, destacou Ubiraci de Souza. Ele enfatizou que os ganhos decorrentes desses esforços podem ser bastante significativos. “Com um sistema de gestão da produtividade, é bastante factível elevar a produtividade da mão de obra em 20% a 25% e reduzir o consumo de materiais em torno de 10%”, concluiu o professor.

Clique aqui para assistir na íntegra o webinar “Produtividade no setor da construção” no canal do YouTube do CTE enredes.

ator Gabriela Souza

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