ESG na construção: implantação requer conexão com estratégia corporativa

Gabriela Souza / 4 de julho de 2022

Em diversos setores da economia, o engajamento das empresas com o movimento ESG (Environmental, Social and Governance) vem impulsionando transformações. Não tem sido diferente na indústria da construção. Nesse setor, que tradicionalmente envolve grandes impactos sociais e ambientais, é crescente o número de companhias com ações estruturadas de responsabilidade ambiental, social e de governança. 

Esse é o caso da Cyrela e da Moura Dubeux, que participaram do oitavo episódio da série Diálogos com a Construção. Comandado por Bob de Souza, CEO do CTE, o bate-papo, disponível no canal do YouTube do Enredes, contou com a participação de Rafaella Carvalho Corti, diretora de Jurídico, Compliance e Sustentabilidade da Cyrela, e de Diego Villar, CEO da Moura Dubeux.

Por onde começar a implantação do ESG?

Em ambas as empresas, o ESG é um tema que vem adquirindo tração há alguns anos. Na Cyrela, por exemplo, a agenda de sustentabilidade é entendida como uma ferramenta de proteção e geração de valor. “Acreditamos muito no potencial dos nossos negócios gerarem impactos positivos”, afirmou Rafaella Corti, lembrando que, para converter princípios em ações práticas, a construtora e incorporadora criou, em 2020, um comitê de governança e sustentabilidade. “Esse passo nos ajudou a alinhar de forma estruturada os princípios de governança e de responsabilidade social e ambiental, em equilíbrio com os resultados econômicos. Desde então ganhamos maturidade, criamos squads multidisciplinares e, mais recentemente, publicamos nosso primeiro relatório de sustentabilidade no padrão GRI (Global Reporting Initiative)”, continuou a executiva.

Na Moura Dubeux, a trilha foi semelhante. Depois da abertura de capital em 2020, a empresa montou comitês e estimulou a área de meio ambiente a ir além do exigido pelas certificações. “Nosso alvo é oferecer a melhor experiência aos clientes e isso está muito conectado com a percepção que esses stakeholders têm da nossa companhia”, revelou Diego Villar. Na visão dele, essa imagem positiva só pode ser construída à base de governança, ética, transparência e desenvolvimento positivo. “Atuar em uma região mais carente, como o Nordeste, nos impõe ainda mais responsabilidade para assumir protagonismo e referenciar qualidade no mercado imobiliário”, comentou Villar.

Ações nas dimensões ambiental e social

No pilar ambiental, as práticas adotadas pelas construtoras passam pela busca por eficiência no uso de recursos naturais, pela prevenção de riscos climáticos, pelo monitoramento de indicadores ambientais, por certificações de terceira parte e pela elaboração de inventários de emissões de gases do efeito estufa. Na Moura Dubeux, a responsabilidade ambiental tem induzido, também, o desenvolvimento de empreendimentos como o Moinho Recife, que se baseiam no retrofit de estruturas históricas.

Já na esfera social, as ações se concentram em três frentes principais: cuidado com o público interno, incluindo capacitação e projetos de diversidade, interação equilibrada com a vizinhança, e promoção de qualidade de vida e de dignidade por meio da construção de habitações de padrão econômico.

Transparência e ética

O atendimento ao terceiro eixo do ESG — a governança corporativa — exige das empresas uma estrutura de gestão sólida, que minimize riscos e garanta boa reputação. Companhias de capital aberto já são obrigadas a cumprir regras rígidas de compliance. Ainda assim, é possível ir além. 

Originalmente familiar, a Moura Dubeux montou uma estrutura com diretoria integralmente profissionalizada e comitê de ética coordenado por um conselho independente. A Cyrela, por sua vez, optou pela criação de um programa de integridade, partindo do pressuposto de que o compliance deve ir além da conformidade, atingindo o comportamento ético.

Garantir o engajamento de colaboradores e de fornecedores à jornada ESG é um desafio posto às empresas. “No caso dos colaboradores, podemos implantar squads e indicadores de desempenho, mas nada é mais poderoso do que o exemplo dado pela alta gestão da companhia”, analisa Villar.

Com relação à cadeia de suprimentos, a saída encontrada envolve a utilização de plataformas digitais para homologar e classificar fornecedores, dando agilidade para os departamentos de compras, que precisam exigir, além de aspectos econômicos, o atendimento a parâmetros técnicos e socioambientais. “Temos muitos desafios, em especial com fornecedores de mão de obra, mas não podemos nos esquecer do nosso papel de ajudar esses pequenos empresários a avançar e a se qualificar”, salientou Rafaella Corti. 

Diego Villar concordou e reiterou que as empresas têm responsabilidade quanto ao desenvolvimento de seus fornecedores, seja com relação à qualificação fiscal e jurídica, seja no que tange a qualidade e o desempenho socioambiental. “Quando necessário, as companhias precisam, também, ter coragem para descadastrar um fornecedor não alinhado com as melhores práticas, ainda que isso tenha impactos em custos e no prazo de conclusão da obra”, concluiu o CEO da Moura Dubeux.

Se você não conseguiu assistir ao vivo o oitavo episódio da série Diálogos com a Construção, não deixe de conferir a gravação do encontro clicando aqui!

ator Gabriela Souza

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