Construtoras: como enfrentar os desafios de um mercado aquecido?

Gabriela Souza / 5 de novembro de 2021

O aquecimento do mercado imobiliário, com a elevação exponencial do volume de lançamentos e de canteiros ativos, tem imposto desafios importantes aos construtores. Primeiro é preciso lidar com a escassez e com o aumento dos preços dos insumos, que pressionam o custo da construção e as margens das empresas. Há, ainda, problemas de qualificação de profissionais e a ameaça de apagão de mão de obra. Em um cenário complexo, como atuar para assegurar o atendimento aos prazos, custos e desempenho esperados e, ainda, gerar resultados financeiros?

Líderes das construtoras Even, Eztec, BN Engenharia e Cury estiveram em um webinar promovido pelo CTE enredes para debater respostas a essa pergunta. Na ocasião eles compartilharam algumas práticas adotadas em suas companhias para superar as adversidades e lições aprendidas de ciclos de expansão anteriores.

QUALIDADE EM FOCO

Muitas das ações miram assegurar a manutenção da qualidade e garantir que as competências técnicas e as boas práticas de engenharia sejam atendidas. Na Even, por exemplo, a abordagem baseia-se em pessoas (cultura), suprimentos e controle. “Com base nas dores do crescimento que tivemos no ciclo 2010-2011, construímos uma estratégia que contempla, entre outras ações, a valorização do estágio, com foco na formação de engenheiros que cresçam dentro da companhia. Paralelamente reestruturamos as trilhas de carreiras, como foco na retenção de talentos, e iniciamos uma jornada que combina inovação tecnológica e simplificação de processos”, listou Marcelo Morais, diretor de operações da Even. Ele contou que em 2021 a construtora ampliou em 43% o número de pessoas só na área de engenharia. “Sem proteger a cultura ou sem um sistema de gestão padronizado, com métodos de fiscalização e cobranças fortes, é muito fácil perder a identidade e a qualidade nesse contexto”, salientou Morais.

Já a Cury trabalha com a contratação prévia de empreiteiros e projetistas para todos os empreendimentos que serão lançados em 2022 e no aumento de sua equipe interna, especialmente nos setores de custos e orçamento. “Para reduzir o impacto da inflação de materiais de construção, na área de planejamento priorizamos soluções que reduzam prazo de obra e melhorem a produtividade, com o lean construction”, comentou o gerente geral de engenharia na construtora, David Nonno. Segundo ele, “a saída para minimizar os efeitos da elevação de custos dos insumos passa por diminuir o prazo de execução, industrializando mais etapas e avançando no uso de tecnologias digitais”.

A rota da industrialização também é seguida pela BN Engenharia. “Infelizmente, em nossos projetos, ainda não conseguimos fazer a conta fechar para uma industrialização mais ampla. Isso não significa que não haja boas oportunidades para industrializar alguns sistemas ou componentes, como os sistemas de fachadas e as varandas pré-fabricadas”, comentou o COO da BN, Everaldo Ramalho.

PARCERIAS ESTRATÉGICAS

Na Eztec, a estratégia para passar com mais tranquilidade por esse momento desafiador prioriza segurança no trabalho, qualidade, prazo e custo. “Hoje, o nosso foco é manter a qualidade dos empreendimentos, mesmo que isso signifique sacrificar um pouco o custo da obra”, disse Carlos Eduardo Monteiro, diretor de planejamento, reforçando que a empresa tem como aliados um robusto sistema de gestão da qualidade e parcerias estratégias firmadas com fornecedores, tanto de mão de obra, quanto de materiais. “Acreditamos que alguns gargalos enfrentados em 2021, e que certamente vamos enfrentar com severidade em 2022, podem ser atenuados com a fidelização de fornecedores”, revelou Monteiro.

Diante dos atrasos para a entrega de insumos pela indústria — para alguns itens a demora chega a um ano — a antecipação das compras tornou-se necessária para minimizar falhas no abastecimento, ainda que isso vá na contramão do conceito just in time.

“Na BN, além de antecipar as contratações, a área de procurement está sendo reforçada. Afinal, é urgente ampliar o número de fornecedores homologados”, disse Everaldo Ramalho. Na Even, além da antecipação das compras, também buscou-se a padronização dos escopos para viabilizar a contratação em bloco. “Visando melhores preços, apostamos também no mercado eletrônico para a aquisição de alguns itens, assim como no enriquecimento do nosso conhecimento interno sobre suprimentos, para ter mais embasamento na hora de discutir preços e fortalecer as parcerias”, informou Marcelo Morais.

A Eztec, por sua vez, criou um departamento junto à sua área de qualidade dedicado ao estudo de alternativas construtivas para a produção de estruturas, fachadas, vedações, impermeabilização e aditivos. “A tendência é cada vez mais deixarmos de adquirir serviços estanques para contratar sistemas mais completos. Com isso, esperamos diminuir a pressão de mão de obra e garantir mais prazo e qualidade”, explicou Monteiro.

DIGITALIZAÇÃO E INOVAÇÃO

Os depoimentos dos executivos das construtoras deixaram claro que inovação, transformação digital e industrialização não são mais opcionais, mas fatores-chave para as empresas conseguirem atuar com consistência e qualidade diante de um mercado aquecido. 

Entre as soluções apontadas pelos participantes do webinar destacam-se a digitalização dos controles da obra, o uso de business intelligence e Big Data para gerar indicadores que apoiem a tomada de decisão, assim como a aplicação do BIM para dar mais assertividade a projetos, planejamentos e orçamentos. Clique aqui e assista na íntegra o webinar “Desafios e estratégias das construtoras em um mercado aquecido” no canal do CTE enredes no YouTube. O conteúdo está imperdível!

ator Gabriela Souza

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