Cenário econômico desafiador pode impulsionar industrialização e ESG na construção

Gabriela Souza / 13 de junho de 2022

A economia brasileira e a indústria da construção navegam em mares turbulentos. É preciso lidar com a inflação em alta, com taxas de juros que inibem o crescimento e com a redução do poder de compra de boa parte da população. Há, também, a desorganização da cadeia produtiva, provocada por oscilações de demanda durante a pandemia, e a elevação dos custos de construção, que exige das construtoras esforço redobrado para manter a viabilidade dos empreendimentos.

As estratégias de construtoras e incorporadoras para superar esses obstáculos estiveram em foco no sexto episódio da série Diálogos com a Construção, realizado no último dia 9 de junho no canal do CTE ENREDES no YouTube. O programa, conduzido por Bob de Souza, CEO do CTE, recebeu dois convidados: Mário Rocha Neto, sócio-fundador da Rocontec, e Antonio Ferreira Rosa, managing director na Hines Brasil.

OS IMPACTOS NO MERCADO IMOBILIÁRIO

No segmento residencial, a inflação e o aumento dos custos de financiamento e da construção impactaram em cheio a demanda. “A compra do imóvel deixou de caber no bolso de muitas pessoas. A velocidade de vendas diminuiu, exigindo replanejamento do cronograma e da quantidade de lançamentos por parte das incorporadoras”, comentou Ferreira. Já entre os prédios corporativos, a pandemia de Covid-19 trouxe uma drástica redução da taxa de ocupação. “O mercado de logística, em contrapartida, vem apresentando resultados positivos nos últimos 18 meses, reflexo da mudança de hábitos de consumo e do crescimento do e-commerce”, afirmou o diretor da Hines. 

Segundo ele, de modo geral, há muita incerteza quanto aos custos e à demanda. Isso eleva os riscos dos investidores, que reagem pausando aportes ou exigindo taxas de retorno maiores como compensação.

COMO PASSAR PELA CRISE?

“O mercado imobiliário vive de ciclos de baixa, de expansão e de estabilização. A dúvida é sobre a duração de cada uma dessas etapas”, disse Ferreira. Ele contou que, na visão da Hines, o momento é propício para iniciar novos ciclos de investimento. Um dos focos é em projetos residenciais para renda. “Em especial para esse segmento, precisamos buscar redução do prazo de construção porque diferente do residencial para venda que precisa de prazos mais longos, nos empreendimentos para locação, quanto mais rápido o prédio ficar pronto, melhor”, comentou o executivo.

Na Rocontec, uma das rotas percorridas tem sido a de estudar e investir em tecnologias e em soluções construtivas visando ganhos de produtividade e melhoria de processos, sempre com foco em gerar valor para o cliente. “Soluções como BIM, sistemas PEX e polvo, além de drywall já estão presentes em todas as nossas obras”, disse Mário Rocha. Para ele, as empresas que vão se destacar nesse cenário desafiador e conquistar longevidade são as que investem forte em gestão e inovação.

Assim como a utilização de componentes industrializados, o ESG (Environmental, Social and Governance) é outra tendência que vem se firmando no mercado, gerando oportunidades para as empresas se conectarem melhor com seus stakeholders, incluindo investidores e colaboradores. 

“Um ativo imobiliário com sucesso de longo prazo é aquele que provê um ambiente produtivo e sustentável para quem usa, frequenta e vive no entorno”, disse Ferreira, anunciando que a Hines vai divulgar no segundo semestre desse ano sua meta de redução de carbono incorporado para os próximos dez anos. Segundo ele, mesmo em momentos de baixa, inovação e sustentabilidade precisam estar na agenda das empresas de modo formal.

Mário Rocha concordou e reforçou que assim como as certificações verdes tornaram-se condição para o sucesso de empreendimentos corporativos, o ESG será um divisor de águas no mercado. “No pilar de sustentabilidade, até por força das certificações, houve uma evolução importante no setor. Contudo, a pandemia escancarou que temos atrasos importantes na parte social, exigindo de todos uma atuação mais solidária”, disse ele.

O fundador da Rocontec destacou, ainda, a importância das empresas não descuidarem da qualidade de seus produtos nesse contexto hostil. “Para sobrevivermos, não podemos perder a nossa credibilidade. Portanto, é imperativo cuidarmos da qualidade, ainda mais nesse momento de pressão por redução de custos e de prazos”, alertou.

O sexto episódio do Diálogos com a Construção, assim como todos os programas da série, estão disponíveis para visualização no canal do ENREDES no YouTube. Não deixe de conferir esse rico conteúdo clicando aqui!

ator Gabriela Souza

Notícias Relacionadas