A diminuição das emissões de gases do efeito estufa está em ênfase em todo o mundo, diante da necessidade urgente de evitar os efeitos catastróficos do aquecimento global. Esse movimento, presente em vários setores da economia, também acontece na construção civil. O setor, conforme relatório do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), é responsável por 36% da demanda energética global e por 39% das emissões de dióxido de carbono relacionadas à energia globalmente.
Mas por onde as empresas podem iniciar uma jornada de descarbonização? De que forma elas devem agir para serem bem-sucedidas na transição para uma economia de baixo carbono?
Para responder essas perguntas, Bob de Souza, CEO do CTE, convidou Felipe Faria, CEO do GBC Brasil, Samuel Gosch, gerente de inovação, processos e ESG na Eztec, e Adriana Hansen, gerente de sustentabilidade do CTE. Os três especialistas participaram do episódio 21 do Diálogos com a Construção, série de lives semanais realizadas no canal do Enredes no YouTube.
Reduções setoriais
“Há uma série de motivos para as empresas prestarem atenção à redução de emissões. Acesso ao capital, valorização e venda rápida dos ativos, assim como reconhecimento em índices de Bolsas de Valores voltados à sustentabilidade são alguns deles”, pontuou Felipe Faria. Outro indicador da relevância desse tema é o aumento de projetos registrados para obtenção de certificação ambiental. “Em 2022 vamos crescer entre 25 e 30% em comparação a 2021”, disse Faria, frisando que o movimento green building está muito ancorado na preocupação com a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
“O fluxo do dinheiro está se direcionando para quem está engajado na temática de carbono. O investidor quer alocar seus recursos em um local seguro. No atual contexto, isso significa empresas estruturadas para lidar com as mudanças climáticas e com outros assuntos abordados no ESG (responsabilidade ambiental, social e governança, em português)”, disse Adriana Hansen.
Também há mudanças regulatórias que jogam luz sobre o controle de emissões. Samuel Gosch citou, como exemplo, o Decreto Federal 11.075, que estabelece procedimentos para a elaboração dos Planos Setoriais de Mitigação das Mudanças Climáticas e institui o Sistema Nacional de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa. “A tendência é a de que as emissões sejam taxadas no futuro. Isso induz as empresas a olharem com mais atenção para essa pauta, que também pode trazer oportunidades interessantes, como a redução do custo de operação dos edifícios e a redução de impactos ambientais”, disse ele.
Roadmap de descarbonização
Em uma companhia, o primeiro passo para iniciar um plano de descarbonização é investir em um processo de educação corporativa e, na sequência, na elaboração de um inventário de carbono. A partir desse diagnóstico, a organização conhece seu perfil de emissões de gases do efeito estufa e pode dar o passo seguinte, estabelecendo planos e metas para gestão e redução.
A realização desse mapeamento também permite às empresas enxergarem oportunidades de negócios no mercado de carbono, atraírem novos investimentos, ou ainda, planejarem processos que garantam eficiência econômica, energética ou operacional.
“Elaborar um inventário de carbono requer um esforço grande com o levantamento e a organização dos dados”, disse Gosch, explicando que as emissões são divididas entre escopo 1, 2 e 3 de acordo com metodologia do GHG Protocol. O escopo 1 refere-se a toda emissão sobre a qual a empresa tem controle direto. As emissões de escopo 2 são aquelas relacionadas ao consumo de energia adquirida, seja de origem elétrica ou térmica. Enquadram-se no escopo 3 todas as emissões indiretas não incluídas no escopo 2 que ocorrem na cadeia de valor da empresa. “Na construção civil, as emissões do escopo 3 são muito impactantes por causa do alto consumo de materiais”, comentou Hansen.
Quando o foco se volta para a redução de emissões no desenvolvimento dos empreendimentos e nas obras, as estratégias que podem ser utilizadas são múltiplas. “A maior parte delas está relacionada ao investimento em inteligência no projeto de arquitetura e na engenharia”, destacou Faria.
Adriana Hansen concordou e reforçou que, no Brasil, muitos projetos ainda são desenvolvidos com uma mentalidade focada em referências internacionais, com pouca adaptabilidade às condições climáticas locais e pouca valorização da qualidade da envoltória.
Na etapa de construção, ela destacou a contribuição dos sistemas construtivos leves na redução de emissões. “Cerca de 30% das emissões dos edifícios construídos estão associadas às fundações, uma vez que elas envolvem um volume muito grande de material e, consequentemente, de carbono incorporado. Ao preferir tecnologias mais leves, podemos diminuir o tamanho das fundações e, consequentemente, a carga de material incorporado”, comentou ela.
Outra oportunidade de melhoria está no sistema de ar condicionado. “Há uma pegada de carbono decorrente da taxa de vazamento de gases refrigerantes. Isso faz com que a indústria de ar condicionado tenha uma representatividade muito grande nas emissões fugitivas e no total das emissões operacionais de uma edificação”, explicou Hansen.
A redução das emissões relacionadas aos fretes dos materiais, assim como o papel das políticas públicas e das certificações de sustentabilidade no processo de descarbonização foram outros temas abordados no Diálogos com a Construção. Se você não conseguiu assistir ao vivo o episódio sobre redução de emissões de carbono, não deixe de conferir a gravação do encontro clicando aqui!