Boas soluções de projeto são vitais para garantir maior eficiência energética e hídrica

Gabriela Souza / 23 de julho de 2021

Diante da necessidade de produzir e operar edifícios mais sustentáveis, como adicionar maior eficiência energética e hídrica às construções? Esse foi um dos pontos abordados no 3º Workstation da Rede Construção Sustentável (RCS), realizado no dia 13 de julho, com a participação de mais de 70 profissionais das empresas participantes da rede. A RCS é uma iniciativa do Enredes composta por 47 empresas que visam exponenciar conceitos e boas práticas de construção sustentável no Brasil.

O CAMINHO DA SIMPLICIDADE

O evento mostrou como boas soluções de projeto são vitais para proporcionar reduções de consumo importantes. Eduardo Yamada, gerente técnico da Unidade de Sustentabilidade do CTE, iniciou os trabalhos ressaltando a importância do design passivo, baseado em estratégias para controle da insolação e para melhor aproveitamento da luz e da ventilação naturais. 

Ele explicou que a sustentabilidade tende a ser maior quando os estudos para maximizar a eficiência de um edifício acontecem nas etapas iniciais de projeto, quando ainda é viável fazer intervenções na envoltória. Nesses casos é possível, inclusive, reduzir bastante o custo com implantação de tecnologias de sistemas prediais. 

Para exemplificar, ele apresentou o resultado da aplicação de modelagem energética em uma torre corporativa no Rio de Janeiro com 75 mil m² de área de carpete e fachada de pele de vidro. “Conseguimos simular várias opções de peitoril que funcionam como anteparo para o ingresso de carga térmica de insolação. Com isso, obtivemos uma economia de 899 TR de ar condicionado apenas tornando a envoltória mais eficiente”, contou Yamada.

PROTEÇÃO DE ENVOLTÓRIA

Em sinergia com essa ideia, José Luiz Lemos, sócio no Aflalo Gasperini, mostrou como os estudos de envoltória e as ferramentas de simulações auxiliam a produção de projetos de arquitetura melhores. Ele apresentou aos participantes do Workstation dois projetos educacionais realizados por seu escritório em São Paulo: a Escola Avenues e o Colégio Bandeirantes.

Construída aproveitando um edifício de escritórios existente, a Avenues tem fachada composta por brises horizontais, que protegem as salas de aula da insolação. Também conta com bandejas de luz internas que potencializam a iluminação natural em locais como a quadra de esportes. Nas áreas comuns, chapas de tela metálica perfurada garantem a proteção solar e ventilação, além de uniformizar a volumetria. 

Para o Colégio Bandeirantes, após vários estudos e simulações, os arquitetos especificaram brises em concreto de alto desempenho e painéis de concreto pigmentado pré-moldados. Além de realizar o controle solar, os elementos remetem, de forma inovadora, aos originais tijolinhos que fazem parte da identidade da escola.

RETROFIT DE INSTALAÇÕES

As apresentações do Workstation enfatizaram que as estratégias de sustentabilidade mais eficazes são as que se apoiam em soluções simples e no acompanhamento rigoroso sobre as modificações de uso na etapa de operação. “Os edifícios mudam durante sua vida útil e as instalações prediais precisam acompanhar isso”, disse José Jorge Chaguri Júnior, diretor da Chaguri Engenharia. 

Ele mostrou exemplos de como é possível gerar economias de recursos (água, energia e gás) sem comprometer o conforto dos usuários. Entre eles, o Petit Palais, um condomínio de alto padrão em São Paulo que utilizava uma central de gás para água quente. Após a troca os equipamentos por equivalentes mais modernos, o condomínio obteve uma economia de R$ 37 mil em apenas cinco meses. Outra experiência bem-sucedida citada por Chaguri foi o Belle Epoque, também em São Paulo, que passou por um retrofit no seu sistema de caldeiras. Além da troca dos equipamentos, foi realizado um estudo de gestão de uso para adequar o funcionamento das máquinas ao uso real dos condôminos. O resultado foi uma economia de 11 mil m³ de gás em um intervalo de oito meses. 

Edifícios comerciais também têm enorme potencial de reduzir consumos com a renovação dos equipamentos, conforme mostrou André Lemoigne, coordenador comercial na Daikin. Ele compartilhou com os participantes do Workstation o case Condomínio Edifício Parque Cultural Paulista, na Avenida Paulista. A torre de fachada espelhada, utilizava um sistema de ar condicionado com chillers de condensação de 1 mil TR. Em 2015 foi iniciado um processo de modernização para substituir a central de água gelada. A nova tecnologia escolhida foi o VRV (Volume de Refrigerante Variável) com condensação a ar, acompanhada de um sistema de monitoramento com central de automação 24 horas. “Além da redução do uso do espaço da cobertura e de um melhor atendimento aos usuários, conseguimos uma economia total de energia do prédio de 40% e diminuir em 80% o consumo de energia do ar condicionado”, contou Lemoigne.

NOVAS TECNOLOGIAS E ABORDAGENS

Ganho de área e redução de custo de operação também foram obtidos com a intervenção realizada pela Wilo no L’ Essence Jardins, um condomínio de alto padrão, também na capital paulista, construído em 2005. No local, optou-se pela pressurização ascendente como alternativa aos reservatórios superiores.

“Havia um grande desperdício de água com a manutenção dos equipamentos existentes”, contou Jerry Silva, engenheiro de vendas na Wilo. O projeto previu a divisão do prédio em cinco zonas de pressão e a instalação de sete bombas de pressurização, sendo duas bombas reservas. Ele também incorporou a inserção de um sistema de telemetria e de um programa de manutenção preventiva. Segundo Silva, com a eliminação da reserva superior, foi possível gerar economia de energia de 32%. “Em empreendimentos novos, além do menor consumo, a pressurização ascendente agrega vantagens como ganho de área vendável, possibilidade de ter coberturas planas, redução de carga estrutural, maior controle de vazão e pressão, além do atendimento à água fria, quente e de reúso”, revelou o engenheiro da Wilo.

CIDADES PERMEÁVEIS

Com um olhar mais voltado à escala urbana, Beatriz Codas, diretora da Geasa, mostrou que a infraestrutura inspirada no funcionamento da natureza pode ter grande impacto na gestão dos recursos hídricos e na atenuação dos efeitos perversos das enchentes. Ela citou como exemplo de estratégia a construção de jardins de chuvas, cada vez mais comuns em grandes cidades, inclusive em São Paulo. 

Solução simples para reverter a alteração do ciclo hidrológico, os jardins de chuva consistem em áreas com vegetação nativa projetadas para reter temporariamente e absorver a água da chuva. Esse conceito pode ser aplicado na forma de canteiros pluviais, de biovaletas para escoamento da água e de bacia vegetada, quando é possível usar um lago com a função de jardim.

Entre os exemplos citados por Beatriz Codas durante o Workstation estão o O Parque, em São Paulo, e o Parque Una, em Pelotas, RS. O primeiro projeto, da Incorporadora Gamaro, almeja a certificação Sustainable Sites e prevê a construção de valas de infiltração em torno das torres. Já no condomínio gaúcho, biovaletas foram incorporadas para fazer a fitorremediação da água que escoa para um grande lago no centro do complexo.

Para a diretora da Geasa, soluções ambientais propostas na escala do lote, do terreno ou da casa são mais eficientes do que grandes obras de infraestrutura cinza. “Precisamos hidratar as paisagens e entender que a água não precisa ser imediatamente tubulada. Ela pode primeiro seguir sua função de limpar, irrigar e infiltrar para, só então, ser encaminhada”, destacou. 

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ator Gabriela Souza

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