Boas práticas para evitar patologias em estruturas de concreto

Gabriela Souza / 27 de agosto de 2021

De tempos em tempos, graves acidentes envolvendo o colapso de edifícios ganham espaço no noticiário, evidenciando a necessidade de boas práticas nas fases de projeto, execução e manutenção de estruturas de concreto. Dois episódios recentes foram o desabamento das Chaplain Towers, em Miami, EUA, e do edifício Andrea, em Fortaleza, Ceará.

As estratégias para evitar tragédias desse tipo foram abordadas no webinar “Projeto, Execução e Patologias de Estruturas de Concreto”, promovido pelo CTE Enredes em 19 de agosto. O evento, mediado por Roberto de Souza, CEO do CTE, mostrou que uma estrutura de concreto pode ter vida útil muito longa desde que bem projetada, construída e mantida.

PROJETO DE ESTRUTURAS

Falhas de projeto, erros de execução e falta de manutenção são os principais motivos que levam uma estrutura de concreto a ruir. Um prédio também pode colapsar em função de alguma interferência externa (como a derrubada de pilar) ou pela combinação de várias dessas causas.

Projetos em obediência às normas técnicas e elaborados por profissionais com conhecimento técnico comprovado podem evitar muitos problemas com manifestações patológicas e, consequentemente colapsos estruturais, comentou Ricardo França, diretor do França & Associados Projetos Estruturais. “Quando um engenheiro de estruturas erra, ele pode matar muita gente e ainda comprometer o patrimônio conquistado com as economias de uma vida”, disse ele, reforçando a necessidade de o projeto de estruturas ser feito somente por quem tem competência comprovada para isso.

“Da parte dos empreendedores, o projeto não pode ser contratado exclusivamente pelo preço”, acrescentou Antônio Zorzi, consultor técnico da Cyrela. Segundo ele, um projeto desenvolvido em alinhamento às normas técnicas e com uma visão de construtibilidade tende a resultar em melhor desempenho e em menor custo global da estrutura.

EXECUÇÃO E RASTREABILIDADE

Mas um bom projeto, por melhor que seja, não garante uma estrutura durável. São igualmente imprescindíveis execução e manutenção adequados. 

Nesse ponto, é fundamental investir em processos construtivos com base em normas e estabelecer procedimentos de execução. “Esse documento é fundamental para padronização do processo executivo, para o acompanhamento e aceitação dos serviços e, também, para o treinamento da equipe”, destacou Zorzi, lembrando que a não qualificação da mão de obra é o item de maior influência negativa em resultados.

“Também é importante que haja comprovações, conferências e rastreabilidade. Isso vale tanto para o projeto, que precisa ser submetido à verificação técnica, conforme a ABNT NBR 6118, quanto para a execução”, continuou França. Ele recomenda, ainda, verificação e documentação fotográfica de todas as peças estruturais, de maneira a garantir a rastreabilidade do que foi executado. Isso porque, depois que a peça é concretada, fica difícil conferir se as armaduras foram colocadas da forma correta.

CONTROLE DE ÁGUA

A aquisição de concreto pelas construtoras precisa de maior rigor, na opinião de Antônio Zorzi. “Não podemos comprar concreto só por fck e slump. É preciso especificar a resistência característica, a classe de agressividade ambiental, a relação água x cimento, a dimensão máxima do agregado graúdo e a classe de consistência do concreto fresco (abatimento). Também precisamos estabelecer critérios rigorosos para receber esse material no canteiro”, destacou ele.

Para Carlos Britez, sócio diretor na Britez Consultoria, quando o assunto é a qualidade do concreto, é imperativo dar atenção à água, em especial à relação água x cimento. Ele explicou que, muitas vezes, o concreto já sai da usina com a dosagem inadequada. Por isso, ele sugere a realização de auditorias não programadas nos fornecedores e o uso de tecnologias de automação como solução para elevar a confiabilidade da medição por hidrômetro analógico nas usinas.

Outro ponto crítico, segundo Britez, é cuidar de processos essenciais, como o lançamento, o adensamento e a cura. Afinal, “não adianta nada produzir um concreto especial, sem cuidados básicos, com a execução”, disse ele. 

Durante o webinar do CTE enredes, Britez listou quatro fatores decisivos para conquistar a durabilidade e desempenho das estruturas de concreto: a qualidade da mistura, a espessura do cobrimento, a arquitetura planejada com detalhes arquitetônicos que mantenham a água afastada da estrutura, e a manutenção periódica.

Na avaliação do consultor, as normas em vigor que versam sobre as estruturas de concreto — ABNT NBR 6118 (projeto), ABNT NBR 12.655 (preparo e controle de concreto) e ABNT NBR 14.931 (execução de estruturas de concreto) — são excelentes. “O que falta é a aplicação correta desses textos e o cumprimento do projeto”, concluiu ele.

Clique aqui para assistir na íntegra o webinar “Projeto, Execução e Patologias de Estruturas de Concreto” no canal do YouTube do CTE Enredes.

ator Gabriela Souza

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