As mulheres na liderança das empresas do setor da construção

Gabriela Souza / 8 de outubro de 2021

Embora ainda haja muito a evoluir, a presença feminina em postos de liderança nas empresas da cadeia da construção é crescente. Isso demonstra um avanço com relação à busca pela equidade de gênero e um alinhamento maior das companhias com os princípios ESG (do termo em inglês Environmental, Social and Governance). Na Tegra, por exemplo, 48% do corpo técnico é composto por mulheres. Na Urbem, 50% dos postos de liderança são femininos. No CTE, as mulheres correspondem a 57% dos colaboradores e têm participação em 58% das posições de comando.

As estratégias para alavancar a participação das mulheres na gestão das empresas do setor foi tema de um webinar realizado pelo CTE enredes, em setembro. O evento, mediado por Roberto de Souza, CEO do CTE, contou com a participação de Cecília Maia, CEO da Gamaro, Patricia Domingues, diretora-executiva de construção na Tegra, Ana Bastos, CEO da Urbem, e Mariana Picolli, vice-presidente de design & construction na Brookfield Properties. 

ADMINISTRAÇÃO COM OLHAR FEMININO

Durante as falas das participantes, ficou claro que a diversidade e o equilíbrio de gênero na alta gestão têm impactos na governança e no resultado financeiro das organizações. “As mulheres trazem diversidade de pensamento, sensibilidade e capacidade de gerir equipes que são importantes para solucionar os desafios do dia a dia e conquistar os resultados”, afirmou Patrícia Domingues.

Nesse sentido, características comumente atreladas ao esteriótipo feminino, como visão multitarefas, empatia, intuição e sensibilidade, deveriam ser mais valorizadas no universo corporativo. “Até como uma reação a um ambiente hostil, ao longo da carreira, muitas mulheres vão de masculinizando. Isso é um equívoco porque o nosso diferencial está, justamente, na nossa sensibilidade e na nossa capacidade de nos colocarmos no local do outro”, destacou Mariana Picolli. 

Segundo Ana Bastos, a liderança feminina faz a diferença porque as mulheres, de modo geral, apresentam mais capacidade para ouvir o outro e mais vontade de ganhar como um time. Além disso, temas relevantes para o setor, como industrialização, inovação, transformação digital e sustentabilidade, tendem a se desenvolver à medida que as organizações conseguirem trabalhar com equipes mais diversas “Isso porque esses temas estão muito relacionados a atributos tipicamente femininos, como criatividade, desapego a práticas usuais, olhar de longo prazo e cuidado com o outro”, comentou Bastos.

AS MULHERES NO SETOR DA CONSTRUÇÃO

Cecília Maia, da Gamaro, lembrou que as mulheres são cada vez mais decisivas na tomada de decisão de compra de imóveis. “Nada mais natural, portanto, do que as mulheres estarem à frente do processo de concepção e desenvolvimento de produtos imobiliários”, argumentou. Ela ressaltou que para a construir uma carreira de sucesso, as mulheres precisam superar uma série de obstáculos que vão da falta de flexibilidade das empresas, à desconfiança das pessoas. “Precisamos provar a nossa competência e que temos condição de estar onde estamos a todo momento”, afirmou.

Entre as atividades que envolvem a produção de um empreendimento imobiliário, a presença feminina é bastante forte na área de projetos e de consultoria. “As mulheres de destacam, principalmente, em atividades que envolvem organização e planejamento”, disse Picolli. Já nos canteiros de obras, a participação feminina ainda é bastante tímida.

  Mas já há iniciativas que visam mudar esse cenário. Em parceria com uma organização social, a Tegra, por exemplo, lançou um programa de capacitação em elétrica, hidráulica e assentamento cerâmico para mulheres refugiadas. “A industrialização da construção, associada à mecanização, também tem grande potencial para promover a inserção das mulheres nas áreas de produção”, comentou Ana Bastos, da Urbem.

COMO ATINGIR A EQUIDADE?

Há uma série de ações que as empresas do setor podem adotar para ampliar a participação das mulheres na liderança. Para Cecília Maia, um primeiro passo deve ser tratar a busca pela equidade como uma prioridade e, a partir daí, desenvolver uma política para a inserção dessas profissionais, com metas bem definidas. Esse, aliás, é um ponto bastante crítico. Segundo relatório global When Women Thrive 2020, realizado pela Mercer, 80% das organizações mundiais defendem a ideia de melhorar a diversidade e a inclusão. Contudo, apenas 42% têm uma estratégia documentada e plurianual para alcançar a equidade. 

“Também é importante criar fóruns para discussão sobre esse tema, envolvendo as mulheres, e também os homens”, continuou a executiva da Gamaro.

Patrícia Domingues, da Tegra, salientou a importância de as empresas se preocuparem em criar ambientes de trabalho saudáveis e respeitosos para todos. “Para atrair e manter as mulheres em nossas equipes, precisamos oferecer a elas condições para que consigam equilibrar a carreira com a maternidade, seja criando uma sala para aleitamento, seja flexibilizando o horário de trabalho”, disse ela.

Ana Bastos destacou a necessidade de empoderar exemplos de liderança feminina, de modo que eles sirvam de inspiração, e de estabelecer programas nos quais os talentos femininos tenham um sponsor

Para as profissionais que almejam postos de liderança, a executiva da Urbem deu três conselhos: montar uma rede de apoio, evitar a autolimitação, e buscar estar em empresas que as valorizem. “As companhias estão em transformação, mas esse processo ainda é muito lento. Por isso, se a mulher peceber que não há espaço para crescer, ela não deve ter medo de buscar outro local para se desenvolver”, sugeriu Bastos.

Clique aqui para assistir na íntegra o webinar “As mulheres na liderança das empresas do setor da construção” no canal do YouTube do CTE Enredes.

ator Gabriela Souza

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