Arquitetura é vetor de transformação na construção civil

Gabriela Souza / 14 de novembro de 2022

Os arquitetos têm o poder e a responsabilidade de impulsionar mudanças positivas no mercado imobiliário, entre elas, a inovação, a transformação digital, a sustentabilidade e a industrialização. Um bom projeto de arquitetura sempre foi um diferencial competitivo. Contudo, em um contexto financeiro complexo, ele torna-se ainda mais estratégico. 

Essa foi uma das constatações do debate promovido durante o 15º Diálogos com a Construção, live semanal comandada por Bob de Souza, CEO do CTE, no YouTube. O evento contou com a participação de Rogério Vasone Conde, diretor-geral da MCAA Arquitetos, Daniel Toledo, sócio e CEO do KV Arquitetos & Associados e Alexandre Kröner, sócio do escritório Kröner & Zanutto.

“Em 2022, os projetos mudaram muito em função do cenário atual econômico. Alguns sofreram alterações pontuais, outros foram reformulados completamente. Houve, ainda, projeto de alto padrão que agregou mais sofisticação. De modo geral, estamos sempre falando em diminuir custo e aumentar o valor”, comentou Rogério Conde. 

“O descontrole do INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) exigiu um trabalho intenso de engenharia de valor para reduzir custo sem comprometer os atributos do produto arquitetônico”, adicionou Daniel Toledo. Segundo ele, para ser bem-sucedido, esse trabalho precisa ser realizado a várias mãos, envolvendo o contratante e os outros projetistas.

Acompanhando as macrotendências da construção

Inovação, ESG (Environmental, Social and Governance), qualificação profissional e novas tecnologias foram alguns assuntos sobre os quais os arquitetos discorreram durante a live.

Com relação à sustentabilidade, Toledo afirmou que as certificações ambientais têm trazido diretrizes importantes para o mercado. Ao mesmo tempo, de modo geral, os edifícios apresentam um desempenho superior em comparação aos projetados e construídos em décadas anteriores. “A evolução é clara, mas o caminho é longo, sobretudo para atingirmos o carbono neutro, que é uma grande tendência”, avaliou.

Alexandre Kröner concordou e revelou que, em seu escritório, a sustentabilidade está cada vez mais intrínseca aos projetos. “Há cliente, inclusive, que só contrata fornecedores com um plano para medir e reduzir suas emissões de carbono”, revelou ele, reforçando que os escritórios de arquitetura terão de se adaptar a novas exigências.

Com forte conexão com a sustentabilidade, a industrialização é outra macrotendência presente no dia a dia dos escritórios de arquitetura, ainda que de modo tímido. “A construção de edifícios altos, que vem se firmando como uma tendência nos grandes centros urbanos, precisa recorrer à industrialização de alguma forma”, salientou Rogério Conde.

“De modo geral, os arquitetos precisam aprender a projetar por componente, que é um processo bem diferente do artesanal”, disse Kröner, que vem trabalhando em projetos que  combinam a modelagem da informação da construção (BIM) com a madeira engenheirada.

Na visão de Daniel Toledo, uma barreira à industrialização é a dificuldade dos profissionais analisarem o sistema industrializado de forma global, considerando fatores como o custo total ao longo do ciclo de vida do empreendimento. “O KV fez o projeto do Platina 220, a torre de uso misto mais alta de São Paulo. Nesse empreendimento, o que será economizado em 50 anos com manutenção de fachada, praticamente pagará o custo de implantação da fachada ventilada”, revelou o arquiteto. “Além disso, quando projetamos a estrutura contemplando uma tecnologia como a fachada ventilada, temos uma  redução de carga relevante, que se reflete em menos custos”, comparou. Segundo ele, isso impacta não somente o orçamento, como também a sustentabilidade do edifício.

Um ponto em comum na fala dos três arquitetos foi a necessidade de a arquitetura resgatar o seu protagonismo como articulador da evolução do setor. Para isso, os caminhos apontados passam pela qualificação dos escritórios, com investimento em inovação, pesquisa e desenvolvimento, bem como pela colaboração e adoção de tecnologias como o BIM, que favorecem o trabalho em conjunto.

“O mercado imobiliário é muito dinâmico, reforçando a necessidade de os escritórios serem ágeis, flexíveis e assertivos, o que só é possível com a ajuda das ferramentas digitais”, disse Conde.

“A arquitetura não pode se posicionar como mais uma disciplina de projeto porque ela é a base que define como será o objeto edificado”, reforçou Toledo, que continuou: “É papel do arquiteto ajudar o cliente a tomar a melhor decisão, inclusive nas relações de compromisso”.

Se você não conseguiu assistir ao vivo o episódio número 15 da série Diálogos com a Construção, não deixe de conferir a gravação disponível no canal do enredes no YouTube!

ator Gabriela Souza

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