Aplicações de certificações de sustentabilidade são tema de Workstation

Gabriela Souza / 23 de junho de 2021

Um indicador do ganho de maturidade adquirido pela temática ambiental nos últimos anos é o protagonismo, cada vez maior, das certificações de sustentabilidade. Afinal, elas permitem às empresas se apoiarem em critérios objetivos para evitar o greenwashing e as auto-alegações. Além disso, ao preverem a verificação por uma terceira parte, elas adicionam credibilidade e permitem aos consumidores avaliar e comparar produtos, empresas e empreendimentos.

A Rede Construção Sustentável (RCS) jogou luz sobre as múltiplas aplicações desses referenciais durante o seu 2º Workstation, que reuniu cerca de 100 participantes. Durante o evento, realizado no dia 15 de junho, Rafael Lazzarini, diretor de Sustentabilidade no CTE, fez um overview sobre ampla diversidade de certificações disponíveis para empresas e empreendimentos. 

Ele citou, como exemplos, as certificações com ênfase no aspecto social. Esse é o caso do Sistema B, que visa a construção de uma economia mais inclusiva, equitativa e regenerativa para as pessoas e para o planeta, e do Gresb, instrumento de benchmarking para tangibilizar a sustentabilidade de fundos imobiliários.

Entre as certificações para empreendimentos, há as que tratam de temas específicos, como Procel Edificações (eficiência energética), Well e Fitwell (saúde e bem-estar). Existem, também, os referenciais multi-atributos, bastante conhecidos, como o LEED, o Aqua-HQE e o GBC Casa & Condomínio. “As certificações tornaram-se fundamentais e são pertinentes em qualquer tipologia de empreendimento e de empresa. Não estamos falando mais de um diferencial de mercado, mas de uma necessidade”, disse Lazzarini.

CERTIFICAÇÃO EM PROJETOS DE ESCALA URBANA

Durante o Workstation, foram apresentados cases que ilustram o alcance, a importância e a versatilidade dos processos de certificação. Entre eles, o complexo Maraey, em Maricá (RJ), que obteve pré-certificação Gold da Sustainable Sites Initiative.

O trabalho para obter tal reconhecimento começou pela identificação da melhor certificação para o empreendimento. “Inicialmente estávamos visando o LEED, mas com o apoio da consultoria do CTE, descobrimos que o sistema Sites era mais alinhado com o nosso desejo de atuar na conservação do meio ambiente”, disse David Galipienzo, diretor-executivo na Maraey. “A certificação exige algo mais e nos obriga a pensar fora da caixa. Não podemos nos contentar em atender as exigências normativas. É preciso subir a régua”, acrescentou Marcelo Galvão, diretor técnico de construção na Maraey. Na visão dele, “a sustentabilidade é uma obrigação para as empresas que constroem bairros.

RESIDENCIAL E TRIPLE A

O processo de certificação dos edifícios residenciais do Parque Global foi o tema da apresentação de Ana Paula Costa, gerente de meio ambiente na Benx. O empreendimento de uso misto pretende revitalizar uma área de 218 mil m² na marginal do rio Pinheiros, em São Paulo, que estava degradada e subutilizada. 

Com mais de 10 mil m² de área verde, o Parque Global iniciou a jornada para atestar suas práticas ambientais em 2011 com a elaboração de um compromisso com a sustentabilidade. Em 2014, obteve a certificação Aqua-HQE, na fase programa para as torres residenciais. “O Parque Global foi paralisado e, em 2019, com sua retomada, optamos por um selo complementar alinhado às novas exigências dos usuários por conforto e bem-estar. Isso nos levou ao processo Fitwel, que coloca ênfase no indivíduo que irá ocupar o espaço construído”, disse Costa.

“As certificações de sustentabilidade ajudam a fortalecer a imagem da empresa, reduzem custos de operação do condomínio e agregam competitividade comercial na venda/locação das lajes ou do prédio”, afirmou Roberval Vieira, superintendente de projetos na Eztec. Ele apresentou aos participantes do Workstation o Esther Towers, triple A que almeja o LEED Core & Shell v4 Gold e que está atualmente em construção na capital paulista. 

Nesse caso, a Eztec estima redução entre 25% e 30% do custo condominial decorrente de soluções como a instalação de elevadores com frenagem regenerativa, vidros de alto desempenho, medição individualizada de água, além de sistema de reúso de águas pluviais e do ar-condicionado para irrigação de jardins. “Todo o trabalho para desenvolver um edifício desse porte e com tal nível de eficiência começa com um processo integrado envolvendo os projetistas para avaliar as melhores alternativas visando economia de água e energia ainda nas etapas iniciais de projeto”, explicou Vieira.

GALPÕES LOGÍSTICOS

Assim como torres residenciais e comerciais, empreendimentos de logística são passíveis de certificação, como mostrou Leandro Guedes, gerente de engenharia na GLP. Ele contou que em 2012 a empresa estabeleceu como condição a obtenção do selo LEED para todos os novos empreendimentos incorporados ao seu portfólio. “Entendemos que essa estratégia reforça o alinhamento da companhia com os critérios ESG e atrai clientes com prioridades semelhantes”, disse o gerente da GLP, que tem atualmente 23 ativos certificados e 15 em certificação.

As certificações desses galpões foram conquistadas com decisões de projeto relativamente simples. Entre elas, a priorização da iluminação natural, a instalação de lâmpadas LED e de sensores fotossensíveis de presença, o aproveitamento da água das chuvas e a previsão de vagas para recarga de veículos elétricos. “O sucesso dessas práticas, contudo, requer o envolvimento dos usuários. Afinal, de pouco adianta instalar um equipamento moderno e eficiente se o usuário não sabe como aproveitá-lo”, alertou Guedes. 

Encerrando a tarde rica em debates e aprendizado, Cláudia Martins, diretora regional da Interface no Brasil, agregou a visão de um fabricante de materiais que tem focado na redução do carbono incorporado em seus produtos. A fabricante de carpetes iniciou sua jornada em 1994 para diminuir os impactos de uma indústria que tradicionalmente utiliza petróleo como matéria-prima para a produção de fios sintéticos. 

Em parceria com outros grandes players do mercado, a Interflooor apoia o projeto Building Transparency, que consiste em uma calculadora de carbono contido em diversos produtos, como drywall, forros e materiais isolantes. “O objetivo é fazer com que os especificadores possam tomar decisões mais conscientes, com menor pegada de carbono, sem elevar o custo do projeto necessariamente”, disse Martins. Ela enfatizou a importância de os especificadores analisarem as declarações ambientais de produto ao fazer suas escolhas. “Esses documentos constituem um mapa completo da pegada ambiental de um produto com base em avaliação de ciclo de vida e verificação por uma terceira parte acreditada”, explicou Martins.

O próximo Workstation da Rede Construção Sustentável terá como tema design passivo e eficiência energética e hídrica. Fique atento às atualizações do nosso blog e às redes sociais do enredes para não perder as novidades!

ator Gabriela Souza

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