A industrialização aplicada às estruturas e às fachadas

Gabriela Souza / 15 de junho de 2021

Muitos avanços vêm ocorrendo nos últimos anos rumo à maior industrialização da construção civil. A diversidade de soluções, seja para a execução de estruturas, seja para fachadas, já é bastante ampla, como mostrou o 4º Workstation de 2021 realizado pela Rede Construção Digital e Industrializada (RCDI) no último dia 8 de junho. 

O evento, que contou com a participação de cerca de 130 profissionais, reuniu projetistas, arquitetos, construtores, incorporadores e fornecedores em uma tarde de intensa troca de conhecimento. 

SISTEMAS ESTRUTURAIS INDUSTRIALIZADOS 

Os trabalhos foram iniciados pelo engenheiro Francisco Graziano, sócio-diretor da Pasqua & Graziano, que discorreu sobre o Parque da Cidade. O empreendimento de uso misto na zona sul de São Paulo é composto por edifícios residenciais, torres corporativas, hotel, shopping center e restaurantes integrados por um parque linear.  

O projeto na gleba B do mega-empreendimento envolveu a superação de alguns desafios, em especial o prazo exíguo para a execução. Havia, também, restrições logísticas por conta do canteiro de dimensões limitadas e dificuldades de implantação em um solo com rochas de alta dureza. 

A solução encontrada combinou pré-fabricados de concreto (pilares, vigas e lajes alveolares protendidas) a um core de concreto moldado in loco em formas autotrepantes. Com isso, foi possível reduzir o cronograma de obra em, pelo menos, seis meses. “A agilidade proporcionada pelos pré-fabricados não acontece apenas durante a montagem da estrutura, mas também decorre da liberação mais rápida da execução dos serviços subsequentes, visto que elimina a necessidade de escoramentos”, comentou Graziano.  

Madeira engenheirada 

woodframe, o CLT (cross laminated timber, em inglês) e a MLC (madeira lamelada colada) também oferecem oportunidades interessantes para a  industrialização das estruturas de edificações, comentou Guilherme Stamato, sócio-fundador da Stamade. Aos participantes do evento da RCDI, ele apresentou soluções como os telhados industrializados, montados no canteiro a partir de peças de madeira pré-fabricadas e içados ao ponto de instalação. “Esse sistema permite a construção rápida e precisa de telhados de diferentes geometrias, inclusive com duas ou três águas”, disse Stamato. 

O especialista em madeira também falou sobre a fábrica da Dengo Chocolates, primeiro edifício com estrutura de madeira engenheirada construído no Brasil. Para o prédio de quatro pavimentos em área nobre de São Paulo, foram utilizadas lajes em CLT, além de vigas e pilares de MLC. A estrutura foi montada em 36 dias, mas esse prazo poderia ter sido ainda menor, segundo Stamato, se não fossem alguns desafios como a logística, o espaço limitado do canteiro e as dificuldades inerentes ao uso de uma tecnologia nova. 

FACHADAS INDUSTRIALIZADAS 

Aos participantes do Workstation, Liliana de Sá, diretora de projetos no escritório Königsberger Vannucchi, apresentou o sistema de fachada industrializado aplicado no Platina 220. O edifício em construção na zona leste de São Paulo, inclui lojas, hotel, studio residencial, salas comerciais e lajes corporativas em uma única torre de 50 pavimentos. 

“Para esse empreendimento, projetamos inicialmente um sistema de fachada ventilada com pré-moldados de concreto. Mas o cliente pediu para trocarmos o acabamento por placas de porcelanato, o que exigiu ajustes para conciliar a modulação”, comentou Sá. A mudança exigiu esforço de todos os envolvidos e resultou em uma solução que envolveu o uso de um perfil metálico para as juntas verticais. “Esse caso nos mostrou que uma solicitação de mudança no projeto pode induzir à inovação tecnológica e à industrialização”, disse ela. 

Os painéis de fachada unitizados que chegam ao canteiro prontos para içamento e montagem também foram o tema da palestra de Kauê Aredes Piozi, gerente de engenharia na CDA Metais. “O grande diferencial dessa tecnologia é que os painéis são produzidos em fábrica, desde a montagem dos perfis até a colagem dos vidros, incluindo toda a vedação do sistema. Isso resulta em ganho de produtividade e em racionalização do trabalho”, disse Piozi. Segundo dados da CDA é possível instalar cerca de 200 m² por dia dependendo do tamanho dos painéis e da configuração do projeto. “Inclusive fachadas com geometrias complexas podem ser padronizadas para receber painéis unitizados”, destacou Piozi. 

HOSPITAL MODULAR 

O hospital modular de Nova Iguaçu (RJ) foi o case apresentado por Alexandre Takara, coordenador técnico na unidade de negócio de fachadas leves da Saint-Gobain, e Roberto Becker, responsável técnico na Quickhouse.  

A instalação permanente, com capacidade para 300 leitos, foi construída em apenas 60 dias graças a um sistema baseado em painéis modulares de aço e vedações industrializadas compostas por chapas cimentícias. “Para viabilizar essa obra em tempo tão exíguo, apostamos na simplificação dos projetos e no uso exclusivo de perfis produzidos em nossa fábrica”, contou Becker, revelando que a obra chegou a trabalhar em três turnos. 

Encerrando os debates, Carlos Nomura, CEO da Cubicset, expôs exemplos de construções comerciais, residenciais e de hotelaria viabilizadas com módulos customizados que podem ser estruturados em steel frame ou em madeira engenheirada. Entre os projetos realizados pela empresa está o Altar Prainha, um chalé de luxo erguido com painéis de CLT. “A produção ocorreu ao longo de 60 dias na fábrica e a montagem durou apenas dois dias”, comentou Nomura, citando ainda, outros exemplos de aplicações dos módulos off-site em para minimalls (mini shoppings), lojas de fast food, cafés, etc. 

Principais conclusões 

Ao longo de mais de três horas de duração, o Workstation da RCDI mostrou que a industrialização da construção é possível e viável em vários segmentos, independentemente da matéria-prima utilizada, se madeira, concreto pré-fabricado ou aço. O sucesso, porém, depende de algumas práticas. A primeira delas é o investimento em projetos bem detalhados e compatibilizados. “O tempo para a concepção e detalhamento do projeto reduz a exposição ao risco”, pontuou Francisco Graziano. 

“Há, também, a necessidade de pensarmos em sistemas, em vez de produtos”, destacou Alexandre Takara, reforçando que o sucesso da industrialização passa, também, pelo monitoramento rigoroso do que acontece tanto nas fábricas, quanto nos canteiros, de modo a garantir o desempenho esperado. 

A adoção de sistemas industrializados requer, ainda, sinergia entre projetistas, construtores/instaladores e fornecedores. “Além disso, as experiências relatadas pelos participantes nos mostraram a importância de desenvolver e consolidar a cadeia produtiva. Afinal, uma única falha em um elo dessa cadeia pode prejudicar a imagem e o sucesso de todo sistema ou tecnologia”, complementou Roberto de Souza, CEO do CTE. 

Fique atento às atualizações do nosso blog e às redes sociais do enredes para não perder os próximos eventos da Rede Construção Digital e Industrializada (RCDI).

ator Gabriela Souza

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