A construção modular e a industrialização no Brasil

Gabriela Souza / 14 de dezembro de 2020

Resumo do texto: 

  • A construção modular garante sustentabilidade, economia e inovação à construção civil;
  • Facilidade na entrega por conta da previsibilidade;
  • As  pessoas estão mudando de cidade de modo que a rapidez nas edificações tem sido mais requisitada;
  • Ainda há resistência por parte de alguns projetistas, arquitetos e designers.

A modularidade veio para tornar a construção civil eficiente, rápida e flexível – sem deixar de lado a sustentabilidade das edificações. Para simplificar o conceito, uma construção modular é desenvolvida por partes em uma fábrica e é transportada até o canteiro de obras (por caminhões), para só depois ser encaixada e ter a aparência de uma “obra normal”.  

Tendo em vista que esse é um método com muita industrialização e tecnologia envolvida, o canal do enredes no Youtube promoveu um webinar para debater o assunto com diferentes profissionais da área. Eduardo Deboni – Sócio e Diretor de Novos Negócios da Visia, Paulo Oliveira – CEO da Aratau, Ricardo Mateus – CEO da Brasil ao Cubo e Luiz Henrique Ceotto – Sócio Diretor da Urbic. O anfitrião e mediador foi Roberto de Souza, CEO do CTE e enredes.  

Esse modo de construção, muito usado em diversos países, passa a ser utilizado e desenvolvido no Brasil graças a empresas como a Brasil ao Cubo, participante do webinar. As dimensões das partes transportadas estão em relação ao tamanho dos caminhões e altura de pontes, viadutos ou fiações que possam estar no trajeto até a obra. O comprimento de um módulo, por exemplo, pode chegar a 8m – medida básica de uma parte da edificação.

Sustentabilidade é a palavra da vez

A industrialização da construção traz benefícios em qualidade e velocidade, além de ser ecologicamente correta. De acordo com Eduardo D., ao trabalhar com modularidade retira-se também todos os problemas que afundam os orçamentos das obras. “Quando mexemos com construções públicas, por exemplo, entregamos com rapidez sem sobrepreços ao governo”, ressalta.  

A construção modular possui características importantes: previsibilidade de custos, prazos e sustentabilidade – os relatórios apontam uma redução de 80% no desperdício em canteiros de obras. E o sustentável vai além. “Existe ainda a possibilidade de expandir esses imóveis com menos impactos ao meio ambiente e desenvolver projetos que garantem até mesmo portabilidade” diz o CEO da Aratau, Paulo O. 

A mudança do mercado está ditando novos comportamentos. Eduardo lembra que as  pessoas estão mudando de cidade de modo que a rapidez nas edificações tem sido mais requisitada que nunca. “As obras nesse sistema e a entrega desses produtos precisam ter prazos reduzidos. Hoje o mercado é amplo, as pessoas fazem mais cálculos e visam sustentabilidade – sem abrir mão da qualidade. Não tem como voltarmos atrás, agora é só adiante mesmo”, defende. 

O peso da obra  convencional é de aproximadamente 1300 kg por metro quadrado. Prédios industrializados pesam até 600 kg na mesma proporção – a quantidade de material agregada em edificações tradicionais produz mais gás carbônico. Ponto para a modularidade.  

Uma construção normal gera de 200 a 400 litros de entulho por metro quadrado. A modular gera menos de 15kg.  Ela é praticamente zero. Luiz Ceotto vê benefícios até aos colaboradores da obra modular. “O trabalho é menos penoso por ser realizado em sua maioria no ambiente controlado de uma indústria e até os salários podem ser melhores por isso – mais conforto para o trabalhador”, diz. 

Gargalos da modularidade na construção civil no Brasil

Existem fornecedores que ainda precisam melhorar no quesito inovação. Ceotto diz que, de uma maneira geral, 80% estão desenvolvidos, mas ainda há dificuldades ao trabalhar com modularidade no Brasil. “Tivemos problemas com pré-moldados de concreto, área de serralheria. É questão de tempo para que todos se adaptem e modernizem”, fala.  

Outro gargalo lembrado pelo convidado Eduardo D., estão nos projetos – ainda há resistência por parte de alguns projetistas, arquitetos e designers. “Quando começarem a projetar nesses formatos, o futuro será promissor. Ainda é difícil em alguns lugares no Brasil, mas estamos melhorando em uma velocidade grande – isso é bom”, considera.  

A indústria está preparada para a inovação e demanda que sistemas modulares necessitam. Paulo O., lembra da chegada da digitalização na construção por advento do BIM (Modelação da Informação da Construção). “Ainda há uma série de ações para regulamentar e implementar com mais força o uso de diferentes plataformas de projeto. Há muitas coisas boas para popularizar ferramentas, mas, ainda existem restrições por parte de projetistas em trazer trabalhos ao digital”, conclui. 

Diretrizes para trilhar o caminho da construção modular no país

O moderador Roberto de Souza propôs aos convidados do webinar que listassem caminhos para incentivar a construção modular no Brasil. Ceotto é categórico. “Precisamos de isonomia tributária. O preço do produto industrializado ainda recebe muito imposto. Necessitamos de inovação no mercado financeiro para subsidiar quem não têm condições”, defende.  

De acordo com Eduardo D., em nosso país existe uma demanda de infraestrutura em diversos segmentos da construção modular. “O que fazer quando trazemos inovações e o governo não compra as ideias? Com aprovações mais fáceis, teríamos maior flexibilidade e benefícios”, diz. Para o profissional seria interessante o desenvolvimento desse mercado para fomentar a modularidade.  

O convidado e CEO da startup Aratau, Paulo O., diz que programas de financiamento para pesquisa e desenvolvimento de inovações aplicadas (em sua maioria) são ruins. “A pesquisa no país ainda é muito voltada à academia, o que não é ruim, mas só dessa maneira não teremos tudo que o país precisa”, fala. Para o convidado, a falta de linha de crédito para quem possui tecnologia aplicada, interfere na evolução da construção modular. 

A Industrialização só funciona com escala e para que isso aconteça de fato é preciso entender benefícios e programas. “Precisamos olhar para a construção modular como economia de dinheiro, produzindo mais com muito menos”, finaliza.  

Outro desafio lembrado está na aprovação de obras, já que construções modulares são extremamente rápidas – hospitais completos são feitos em prazo recorde de 33 dias pela Brasil ao Cubo, por exemplo. O CEO, Ricardo M., anseia por velocidade. “Espero agilidade na aprovação para obras e principalmente desburocratização. Não se pode esperar três meses de análise no projeto enquanto a obra em si levaria um terço desse tempo “, remata.  

A construção modular é uma realidade que veio para ficar e auxiliar em inovação, sustentabilidade e economia –  benefícios permanentes à construção civil no Brasil.

Acompanhe ao webinar na íntegra:

ator Gabriela Souza

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