Estratégias para a construção de cidades inteligentes

Gabriela Souza / 11 de outubro de 2021

Sempre que o assunto são as smart cities, a imagem que vem à cabeça é a de locais altamente tecnológicos, autônomos, repletos de sensores integrados a ferramentas de inteligência artificial e big data. É verdade que a cidade do futuro não pode prescindir de tecnologia. Mas é preciso muito mais para tornar um bairro ou uma cidade resiliente e saudável para seus ocupantes. 

Isso ficou claro durante os debates do 6.º. Workstation da Rede Construção Sustentável (RCS), realizado em 21 de setembro. Com a participação de mais de 100 profissionais de empresas associadas à Rede, o evento apresentou um farto conjunto de estratégias adotadas pelo mercado imobiliário e pelo poder público para solucionar problemas do cotidiano da população.

“A tecnologia digital é uma ferramenta para a produção de cidades mais inteligentes e humanas. Mas não é a única”, comentou Myriam Tschiptschin, gerente da Unidade Smart Cities do CTE. “Temos visto algumas cidades experimentando o sensoriamento de bueiros, o que é muito interessante. Porém, sabemos que sem transformar a forma de construir e ocupar as cidades, restaurando o ciclo hidrológico natural, não vamos resolver o problema de drenagem urbana”, exemplificou a arquiteta, que defende a combinação de estratégias urbanas low-tech e high-tech para obter os resultados mais concretos e assertivos.

RANKING DE SMART CITIES

“No desenvolvimento de uma cidade inteligente, também não podem faltar diagnósticos para subsidiar a elaboração de planos estratégicos e de ação”, comentou Paulo Takito, sócio-diretor na Urbam System. Aos participantes do workstation, ele apresentou o ranking Connected Smart Cities, que aponta o estágio das cidades brasileiras com relação ao desenvolvimento inteligente e sustentável. A classificação é composta por 11 eixos temáticos, que versam sobre aspectos econômicos, urbanísticos e sociais, e 75 indicadores que se conectam entre si. “A última edição da lista, divulgada em 2021, mostrou não haver cidades verdadeiramente inteligentes e conectadas no Brasil. O município melhor pontuado, São Paulo, obteve uma nota 37,58, o que demonstra haver muito o que avançar”, destacou Takito.

A CONTRIBUIÇÃO DO PLANO DIRETOR

Na cidade de São Paulo, o desenvolvimento de cidades mais sustentáveis e amigáveis à população pode ser impulsionado pela revisão do Plano Diretor, atualmente em andamento. César Azevedo, secretário municipal de Urbanismo e Licenciamento do município, explicou que o objetivo da iniciativa, prevista em Lei, é aperfeiçoar pontos do plano que está em vigor desde 2014. “A intenção é melhorar a vida do paulistano e tornar a cidade mais inclusiva, principalmente para as pessoas mais vulneráveis. Para tanto, precisamos criar moradia onde há infraestrutura e, ao mesmo tempo, promover novas centralidades na periferia, gerando emprego nessas regiões”, detalhou Azevedo. 

De acordo com o secretário, são princípios do Plano Diretor o desestímulo ao uso do carro e o incentivo à utilização do transporte público e à caminhabilidade. Outras prioridades são licenciar 300 mil unidades habitacionais entre 2021 e 2024, estimular o retrofit para a ocupação do centro e realizar estudos para potencializar as vocações de cada região. Temas que geram polêmica, como o adensamento de áreas próximas aos eixos viários foram abordados por César Azevedo, que salientou: “A revisão do Plano Diretor prevê um processo participativo amplo envolvendo toda sociedade civil”.

SAÚDE E BEM-ESTAR EM AMBIENTES EXTERNOS

Uma parte da programação do workstation da Rede Construção Sustentável foi reservada à apresentação de cases inspiradores. Anna Rolim, gerente de produto e experiência do cliente na Artesano Urbanismo, discorreu sobre o Artesano Galleria, loteamento em Campinas, SP, que privilegia estratégias como a regeneração de áreas verdes e a construção de hortas e pomares orgânicos. Composto por 233 lotes com 460 m² cada, o empreendimento conta com sete praças temáticas. “As estratégias visaram potencializar as sensações de bem-estar, favorecer a saúde física e mental dos ocupantes e promover a regeneração da natureza”, explicou Rolim. 

Ricardo Cardim, diretor na Cardim Arquitetura Paisagística, deu detalhes sobre o paisagismo concebido para o complexo mixed-use O Parque, em São Paulo. Desenvolvido a partir de um minucioso trabalho de arqueologia botânica, o projeto utilizou somente espécies nativas. Trata-se do primeiro empreendimento registrado na certificação Sustainable Sites no Brasil. 

Segundo Cardim, o paisagismo é um elemento de saúde pública e deveria ser mais funcional, desempenhando outros papéis, além da estética. “Além disso, a sustentabilidade urbana passa pela valorização das espécies nativas, que demandam menos custo de manutenção e crescem mais rápido”, disse Cardim, reforçando que a biodiversidade precisa ser bem cuidada porque é o que garante às cidades brasileiras água e energia.

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ator Gabriela Souza

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