Tecnologia contribui para dar resiliência às cidades e aos edifícios

Gabriela Souza / 15 de outubro de 2020

Embora haja um vasto campo a ser desenvolvido, as estratégias de smart cities e smart buildings adquirem cada vez mais relevância no Brasil e no mundo. Exemplos nesse sentido começam a despontar em várias cidades, não apenas por ação de órgãos públicos, mas principalmente por interesse da iniciativa privada. Esse movimento virtuoso se refletiu nas falas dos palestrantes do 6º Workstation promovido pela Rede Construção Digital Industrializada (RCDI), via plataforma on-line no último dia 6 de outubro. O encontro abordou a necessidade de combinar tecnologias digitais e boas práticas de planejamento e gestão para a garantir saúde e bem-estar às pessoas, seja em escala urbana (bairros, cidades), seja em projetos de menor dimensão (edifícios e condomínios).

Bem-estar e eficiência operacional

Levar inteligência aos projetos de grandes loteamentos, bairros e cidades visa solucionar problemas do cotidiano, melhorar os serviços prestados à comunidade e proporcionar qualidade de vida aos usuários no cenário atual e futuro. Tudo isso, sem prejudicar outras cidades ou degradar o meio ambiente.

Para alcançar esses objetivos, podem ser adotadas estratégias low-tech e high-tech. Nesse segundo grupo, destacam-se a Inteligência Artificial, a Internet das Coisas e o Big Data, que permitem a coleta de dados em tempo real e ajudam na tomada de decisões mais assertivas. 

Entre os exemplos estão os sensores de bueiros que alarmam indicando a necessidade de manutenção. “Essa tecnologia eleva a eficiência operacional e proporciona redução de custos aos gestores. Mas quando inserida isoladamente, os resultados são muito limitados” comenta Myriam Tschiptschin, gerente da unidade de smart cities do CTE. “Além de tecnologias digitais, é importante que os projetos contemplem ações low-tech que muitas vezes têm  baixo custo de implementação, como a construção de jardins de chuva para prevenção de enchentes”, exemplifica Tschiptschin. Segundo ela, a  pandemia de Covid-19 enfatizou ainda mais a necessidade de as cidades buscarem meios para garantir equilíbrio com a natureza, resiliência, saúde e bem-estar à população.

Smart city e fundo ESG

Um projeto que vem buscando explorar estratégias smart em seu desenvolvimento é o do Parque Tecnológico de Brasília (Biotic). Em implantação em uma área de cerca de 1 milhão de metros quadrados, próximo ao Plano Piloto, trata-se de um distrito de inovação com empresas de base tecnológica, instituições de ensino e pesquisa, além de um bairro multifuncional. “A Biotic será a primeira smart city do Brasil  associada a um fundo imobiliário ESG (Environmental, Social, Governance)”, conta João Veloso, economista da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) e assessor da Biotic.

“Quando incorporamos tecnologia, sustentabilidade e responsabilidade social em nosso projeto, ampliamos as possibilidades de captação de recursos”, garante o executivo. “A classificação de ativos como sustentáveis é determinante, nos dias atuais, para atrair recursos internacionais. Isso impulsiona o desenvolvimento de empreendimentos atrelados a práticas ESG e que sejam certificados por órgãos independentes”, diz Veloso.

Smart: além da automação

Em edifícios, as oportunidades trazidas pelas tecnologias digitais permitem levar eficiência e segurança operacional a patamares nunca atingidos. Nesse contexto, vale distinguir aqueles que têm automação embarcada dos smart buildings. 

“Um edifício classificado como smart necessariamente tem uma camada de inteligência. Estamos falando de instalações sofisticadas, que gerenciam um amplo volume de dados e que utilizam tecnologias, como Inteligência Artificial e Internet das Coisas, para otimizar a operação, poupar recursos e aumentar a rentabilidade, sem comprometer o conforto do usuário”, esclarece Wagner Oliveira, diretor da unidade de operação sustentável do CTE.

Para isso, além de equipamentos, sensores, medidores e devices inteligentes, esses empreendimentos devem dispor de redes de comunicação robustas, que permitam aos sistemas conversar entre si. “Justamente por isso, um caminho que vemos para os smart buildings é trabalhar com protocolos semelhantes baseados em conexão IP, para permitir o diálogo entre as diferentes tecnologias”, analisa Oliveira. 

Na visão do diretor do CTE, algumas soluções, em especial, têm potencial para serem incorporadas facilmente aos edifícios, trazendo resultados positivos e rápidos. É o caso dos sistemas para monitoramento do consumo de água, energia e gás, que vão além da telemetria, e municiam os gestores de informações para uma tomada de decisão ágil diante de comportamentos fora do padrão. Estima-se que, quando integrada a outras boas práticas de gestão, esse monitoramento possa manter o consumo de energia dos edifícios entre 20 a 30% abaixo do baseline.

Sensores e simulação

Durante sua apresentação no 6º Workstation da RCDI, Alex Paulino, diretor de Internet das Coisas da Logicalis, listou algumas inovações relacionadas a IoT já aplicadas em smarts buildings e cities. Entre elas, totens integrados com o sistema de transporte público, sensoriamento de lixeiras, sistemas inteligentes de telegestão de luminárias e monitoramento de bueiros e de áreas de risco de enchentes. 

Para os edifícios, Paulino aposta no uso mais amplo do digital twin, que permite realizar uma simulação virtual de um produto, sistema ou processo para prever análises de comportamento, auxiliando manutenções preditivas e preventivas. 

“O custo dos hardwares, que antes era visto como um limitador à introdução dessas tecnologias, tem diminuído na mesma proporção em que seu uso vem crescendo. No entanto, ainda faltam aos projetos trabalhar melhor as justificativas econômicas para a realização desses investimentos”, avalia o diretor da Logicalis, reforçando que antes de iniciar qualquer projeto de edifícios, bairros ou cidades inteligentes é necessário realizar um diagnóstico claro dos problemas a serem solucionados.

Experiência dos usuários

Soluções como bueiros e portarias inteligentes, além de elevadores interligados por aplicativo e acionados por visitantes via QRCode, serão incorporadas na área residencial Parque Global, como contou Nathália Lourenço, gerente de incorporação da Benx Incorporadora. O empreendimento de uso misto na zona sul de São Paulo incluirá shopping, complexo de saúde, educação e inovação, além de quatro torres de apartamentos em uma área de 218 mil m². “Com foco em sustentabilidade e na qualidade de vida dos usuários, os residenciais buscarão a certificação Aqua-HQE e Fitwell”, revela Lourenço.

Cases de aplicação de estratégias smart em condomínios residenciais, como o Parque Global, são raros no Brasil. Por aqui, o uso de tecnologias digitais para adicionar inteligência aos edifícios ainda estão restritas ao segmento corporativo de alto padrão. Mas a expectativa é a de que, gradativamente, isso mude.

“Desde que a Rede Construção Digital Industrializada começou a estudar tecnologias como Internet das Coisas, Big Data e Machine Learning, em 2018, o mercado avançou com relação à oferta e à utilização”, compara o CEO do CTE, Roberto de Souza. “Apesar disso, ainda são enormes as oportunidades para embarcar tecnologia de ponta e tornar edifícios e projetos de escala urbana mais eficientes, sustentáveis e melhores para os  usuários”, conclui Souza.

ator Gabriela Souza

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