O consumo de produtos imobiliários pós-pandemia

Gabriela Souza / 23 de outubro de 2020

Resumo do texto

  • Mudanças de hábitos que mais ocorreram durante a crise pandêmica destacaram-se no crescente consumo de produtos de manutenção geral da saúde e bem-estar;
  • A constante queda na taxa de juros Selic foi determinante para o crescimento nas vendas de imóveis durante a pandemia;
  • O mercado se prepara aos poucos para atender ao novo normal e as novas necessidades dos clientes;
  • A modernização de equipamentos ganhou destaque em todos os empreendimentos;
  • Princípios ESG vieram para dar visibilidade ao usuário sobre contextos e benefícios que o social, a governança e o ambiente garantem.

A mudança no comportamento do consumidor durante a pandemia, fez com que projetos residenciais fossem modificados para atender às novas exigências do mercado imobiliário. Com pessoas em quarentena, as atenções se voltaram ao ambiente doméstico e remanejamentos ocorreram – modificações antes impensáveis ou que levariam tempo para acontecer, se tornaram urgentes.  

Intencionado pela relevância do tema, o canal do enredes no Youtube apresentou a 29ª edição do webinar com o objetivo de discutir a inovação em produtos imobiliários e residenciais para atender ao novo perfil do consumidor pós-pandemia. Roberto de Souza, CEO do CTE enredes, recebeu os convidados João Azevedo – COO da Even Construtora, Gui Mattos – Arquiteto Titular da Arquitetura Gui Mattos, Antônio Setin – Fundador e Presidente da Setin Incorporadora e Rogério Vasone Conde – Diretor Geral da MCAA Arquitetos. 

Segundo resultados de uma pesquisa da Nielsen (empresa global de informação), as mudanças de hábitos que mais ocorreram durante a crise pandêmica destacaram-se no crescente consumo de produtos de manutenção geral de saúde e bem-estar – sinalizando modificações em ambientes domésticos, por exemplo. Mas o que foi feito por parte das empresas da cadeia construtiva para entrar em conformidade com essas mudanças?

Nova conduta dos clientes e marcas

Para os convidados, as mudanças se tornaram rápidas com a pandemia. De acordo com Antônio S., o receio do trabalho remoto fez com que um sentimento de crise viesse à tona. “Sempre gostei de trabalhar na empresa e fiquei com medo do home office. Lancei tudo para o próximo ano (2021) e pensei que dessa crise não passaríamos”, disse. Como o setor reagiu bem à constante queda na taxa de juros Selic (hoje em 2%), rapidamente foi percebida uma guinada nas vendas. “Julho se mostrou um mês excepcional. Nunca vendemos tão bem nesse período. Parece que não havia acontecido crise alguma”, afirmou. Para o diretor da Setin Incorporadora, a taxa de juros foi um componente decisivo. 

A Even Construtora tem o propósito de transformar o jeito de morar, trabalhar e conviver. João A., alegou que o novo comportamento dos clientes e da empresa, passam por uma sequência que valoriza concepção, conceito, qualidade, segurança, relacionamento e conveniência. “Na pandemia nós nos sentimos mais preparados por praticarmos essas premissas”, defendeu. Para o profissional, esse momento trouxe inquietações, pois a relação com o imóvel mudou e agora as pessoas anseiam por espaço e segurança. “A casa precisa ser um hub (concentrador), pois ela te conecta ao mundo. Nós entendemos que o lar deve ser eficiente e estar à disposição dos usuários”, afirmou. Segundo João, o mercado está se preparando aos poucos para o novo normal. 

Mudanças nos ambientes domésticos

A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi que as pessoas ficassem em casa para se proteger. Ao permanecer em um local, percebe-se iluminações, o conforto e a ventilação dele – por exemplo. Como defendeu Antônio S., identificar problemas no ambiente doméstico e realizar investimentos, não alteraria o mercado caso a taxa de juros ainda estivesse alta. “Nós fomos felizes em um momento triste (de pandemia). As pessoas com condição financeira, aproveitaram a queda nos juros e proporcionaram conforto para si e para a família”, constatou. De acordo com o empresário, o setor imobiliário vive um período “mágico”, pois todas as melhorias ocorrem durante uma crise mundial. 

Para João A., a pandemia foi a razão de várias mudanças que demorariam anos para ocorrer. A modernização de equipamentos ganhou destaque em todos os empreendimentos. “A tecnologia tem que ajudar as pessoas, principalmente para que possam estar mais seguras em seus imóveis”, explicou. O convidado apresentou a preocupação com a durabilidade das edificações e o quanto essa inquietação evoluiu ao passar dos anos. 

Em concordância ao assunto, Rogério V. defende que o uso da tecnologia tornou os apartamentos em ambientes integrados e flexíveis, além de fazer-se possível individualizar as vontades dos clientes com mais objetividade. “Nós analisamos qual a necessidade de cada pessoa e trazemos isso aos nossos projetos”, apresentou. 

Com os espaços de moradia virando protagonistas, Gui Mattos acredita que se inverteu o antigo costume de fazer com que as pessoas se interessem pelo exterior. “Antes você era incentivado a viver fora e hoje não. Estamos em um momento de transformação onde o consumidor foi obrigado a sentir o ambiente onde vive”, referiu. O profissional defende  empreendimentos imobiliários com valorização de áreas comuns generosas. “Esse movimento nos projetos geralmente levam anos para ocorrer e a tendência é proporcionar qualidade de vida aos usuários”, relatou. 

Princípios ESG nos empreendimentos

Pensar no ambiente, sociedade e na governança já é realidade na maioria das empresas. Os Princípios ESG – abordados aqui no blog – são a tradução de Environmental, Social and Corporate Governance. Levando em conta o assunto, João A. defende a sustentabilidade como um ideal em constante evolução. “É uma busca contínua que sempre pode ser melhorada. O social também é uma parte que precisa ser desenvolvida. Em uma crise, infelizmente esse item anda um pouco para trás”, lamenta. A Even Construtora elabora projetos sustentáveis com auxílio de tecnologia, objetivando reduzir impactos para as próximas gerações. “Esse momento é oportuno. Já notamos as novas gerações vindo com a sustentabilidade forte em seus ideais”, destacou. 

Antonio S., defende ser impossível haver qualquer crescimento sem dor. “Enquanto não existirem normas rígidas para desenvolvermos empreendimentos sustentáveis e com obrigação do usuário na manutenção, nunca vamos atingir bons resultados”, reforçou. Para o empresário, sustentabilidade na empresa vai além da elaboração de produtos – está no respeito com funcionários, clientes, pontualidade nos compromissos e bons pagamentos. “Empresas ainda pensam mais em lucro do que no desenvolvimento sustentável, no sentido amplo. Acredito que essa situação de pandemia será mais uma lição para melhorarmos nosso espírito humano”, salientou. 

A realidade de um escritório de arquitetura é diferente de uma empresa. Para o arquiteto Gui Mattos, uma das últimas indústrias de grande escala que se arrasta para evoluir é a construção civil. “A hora que vivermos a realidade de um canteiro de obras reduzido e industrializado, vamos melhorar a qualidade de vida das pessoas envolvidas”, explicou. O convidado alega que estamos ‘engatinhando’ por esse caminho que lá fora é amplamente explorado.

Infelizmente o público final não percebe o real valor da compra de um imóvel sustentável, alega Rogério V. O convidado defende que a norma de desempenho veio para dar visibilidade ao usuário sobre os contextos e benefícios que a sustentabilidade garante ao longo da existência do empreendimento. 

De acordo com Bob de Souza, hoje temos aproximadamente 590 empreendimentos certificados LEED no Brasil, representando um avanço significativo ao setor.  “Isso mostra que temos capacidade em arquitetura e construção para fazer acontecer a sustentabilidade em nosso país”, complementou. 

Os empresários que participaram do webinar acreditam que estamos em um ciclo virtuoso no mercado imobiliário. Antônio S., disse que nunca experienciamos mudanças como agora. “Se você olhar a história do mundo, qualquer país que reduziu a taxa de juros vendeu muitos imóveis. Esse ciclo será positivo pelos próximos 10 anos”, defendeu. 

Novos comportamentos ditam regras e mudam a visão do mercado imobiliário sobre os consumidores. Ações que levariam anos para ocorrer, foram aceleradas pela pandemia e seus resultados permanecerão até o fim dela. Projetos imobiliários e mudanças nos espaços domésticos, impactaram positivamente a economia e o avanço da tecnologia.

Assista ao webinar na íntegra:

ator Gabriela Souza

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