Desafios da habitação econômica e o programa Minha Casa Minha Vida

Gabriela Souza / 29 de dezembro de 2020

Resumo do texto:

  • Estudos mostraram que a construção civil não evoluiu no mesmo ritmo que outros setores que movimentam a economia – isso se deve pela falta de padronização e coordenação que ainda existem na maioria das indústrias;
  • Experimentar uma taxa de juros mais baixa é motivador para quem está no setor da construção civil;
  • O Estado provendo fontes de financiamento para as classes C e D contribui para o impulsionamento da economia;
  • Viveremos uma demanda cada vez maior por parte dos consumidores – eles buscarão por tendências e variedades após a pandemia.

O programa Minha Casa Minha Vida, o maior exemplo de habitação econômica, foi criado no ano de 2009 com o objetivo de ampliar o acesso à moradia para famílias de baixa renda. A crise econômica que se arrastava antes mesmo do novo coronavírus (início de 2020), dentre outros fatores, fizeram com que o projeto passasse por algumas mudanças – que ainda ainda não foram anunciadas pelo Governo Federal. Segundo dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) o projeto irá funcionar como voucher, um tipo de Cheque Moradia ou Carta de Crédito para pequenos municípios. Ainda sem previsibilidades.  

Pensando na atualidade do tema, o canal do enredes no YouTube promoveu um webinar sobre habitação econômica e as perspectivas para o Programa Minha Casa Minha Vida. Os profissionais convidados para o bate-papo foram Paulo Flaquer Filho – Diretor de Engenharia da RPS, Sidney Ostrowski – Diretor Executivo de operações da Tenda, Rubens Buzetti – CEO da ForCasa e Thiago Ely – Diretor Executivo Comercial da MRV. O programa teve como anfitrião e moderador, Roberto de Souza – CEO do CTE.  

Nos últimos anos, estudos chegaram em conclusões parecidas: a construção civil não evoluiu no mesmo ritmo que outros setores que movimentam a economia. Para o convidado Sidney O., isso se deve pela falta de padronização e coordenação que ainda existem na maioria das indústrias. Pensando em evolução para o segmento, o programa de habitação econômica Minha Casa Minha Vida (MCMV), fundamental para qualquer governo, ainda sofrerá com transformações para impulsionar mudanças. “Teve uma grande queda de juros que ajudou bastante, mas, ainda dependemos da Caixa (banco) e todas as burocracias impostas”, explica o Diretor de Engenharia da RPS, Paulo F.  

Experimentar uma taxa de juros mais baixa é motivador para quem está no setor da construção civil. Isso é poderoso para que o país avance.

O mercado da habitação econômica como impulsionador da economia

De acordo com Rubens Buzetti, a atual situação dos juros é motivadora para os profissionais da área da construção. “Eles ajudam a economia a se posicionar e se estabelecer. Dessa maneira o cliente terá mais capacidade de compra e consumo de nossos produtos”, diz. O CEO acredita que isso permitirá que o setor alcance uma escala ainda inimaginável em vendas. O Estado provendo fontes de financiamento para as classes C e D contribui para o impulsionamento da economia, mas uma revisão ainda é necessária. “Precisamos de uma simplificação operacional e partir para uma desburocratização dos processos – isso por si já consegue baratear a produção e dar acesso à moradia digna para quem precisa”, explica.  

É importante termos uma visão positiva da habitação econômica no Brasil. Para Thiago Ely, ela serve como uma solução de uma mazela do país. “Dar um lar para as pessoas faz com que determinemos melhor a sociedade como um todo. Essa função social é fundamental dentro do setor da construção civil”, fala. O profissional ainda destaca a importância da evolução das indústrias. “Acredito que o nosso trabalho de desenvolvimento da indústria precisa seguir para impulsionarmos a economia, afinal, empregamos uma grande quantidade de pessoas, por exemplo”, contextualiza.  

Sem dúvida a atual taxa de juros é fundamental, mas, Paulo F., entende que existem outros pontos para que o MCMV se mantenha forte e tenha continuidade. “Temos que buscar o aumento do teto – existe uma faixa de renda no programa que ainda não está sendo atendida (a faixa 1) que vai depender de políticas de governo para que isso volte a acontecer”, esclarece. 

O impacto do poder aquisitivo e mudanças de comportamento

Ao serem questionados quanto ao impacto que o aumento do poder aquisitivo das pessoas de baixa renda geraria para a economia, os convidados apresentaram respostas determinantes. Rubens B., enxerga que uma mudança no poder de compra depende de uma conjuntura global para que a população tenha poupança e gere mais riqueza. “Eu vejo que nosso público ainda têm uma renda restrita. Temos que ver os atos de consumo que estão passando por transformações e onde o público deseja gastar o dinheiro –  isso muda a empresa também”, especifica.  

O profissional, Thiago E., disse que novas tendências de consumo impactam até mesmo na segurança dos empreendimentos. “Até janeiro a segurança dos condomínios era uma coisa – com cercas, muros altos, câmeras e guaritas, por exemplo. Hoje é outra – as pessoas investem mais na casa em si e isso reflete diretamente a nossa indústria”, entende.  

Para o Diretor Executivo Comercial da MRV, quando falamos na renda das pessoas, fica inevitável não olharmos para a recuperação da economia. “A melhora e o aumento no poder aquisitivo não serão velozes, mas, isso não impactará tão negativamente o nosso setor”, diz. O diretor espera por uma reação com o crescente número de contratações na área da construção civil. “Precisamos que a economia reaja e esse novo comportamento e retorno dos empregos. Isso será fundamental para o impacto econômico em nossas empresas”, defende. 

A mudança mais relevante em relação ao poder aquisitivo é a formalização da renda. O convidado, Sidney O., explica que a concessão de crédito é desproporcionalmente voltada para clientes com renda formal. “O mercado brasileiro tem uma informalidade muito alta e essas pessoas ficam à margem de financiamentos”, relata.  Paulo F., apresenta outras soluções que ajudariam a renda. “Se mudarmos questões do governo, como financiamento de 100% para esse público informal, é possível colocar mais consumidores no mercado e minimizar até mesmo o desemprego que a pandemia ocasionou”, fala.

Infraestrutura e mudanças de pensamentos na área da construção

Quais são os maiores desafios técnicos da área da engenharia? Para Rubens B., um obstáculo está na burocratização dos processos de licenciamento e legalização dos empreendimentos. “Outro ponto complexo diz respeito às infraestruturas das cidades que atuamos, pois os terrenos, que estão em áreas mais distantes (geralmente nas periferias), não possuem condições e quem acaba pagando por isso é o cliente”, conta. 

Dado um cenário futurista, viveremos uma demanda cada vez maior por parte dos consumidores – eles buscarão por tendências e variedades principalmente após a pandemia. Isso atingirá a indústria e a qualidade das construções, “certo que também refletirá na produtividade dos canteiros de obra e como iremos melhorar os processos com digitalização e redução de custos”, comenta Thiago E., da MRV. O convidado, Sidney O., lembra que a indústria da construção civil é a maior do mundo – representa 13% do PIB global – movimentando o equivalente a R$ 9,5 trilhões por ano no planeta. Mas infelizmente precisa de cuidados. “Ela tem um resultado de ineficiência enorme e todos os custos são repassados ao cliente, o que poderia ser resolvido com uma boa padronização de processos, por exemplo”, defende. O convidado anseia uma Industrialização genuína, pois só assim a construção entrará nos patamares de outras indústrias que realmente geram valores no mundo com transformações digitais.  

A indústria civil ainda está atrás de outras em questões sociais, de sustentabilidade e governança. Quando comparada, ainda não somos referência. “Temos que transbordar a parte da sustentabilidade e garantir que a governança esteja à prova de qualquer dúvida – isso é fundamental”, defende Thiago E. É preciso ver para onde o cliente está olhando e o que ele quer. “Isso é possível por conta da jornada mais longa que proporcionamos. Temos que ter carinho e cuidado com ele”, finaliza o Diretor Executivo de Operações da Tenda, Sidney O.  

O “olhar do cliente” é uma mudança importante que o empresariado precisa ter, dessa maneira, a transformação digital acontecerá nas mais variadas áreas da companhia. 

ator Gabriela Souza

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