Conexão entre empresas e startups gera oportunidades de ganhos em cadeia

Gabriela Souza / 10 de setembro de 2020

De que maneira as empresas podem se beneficiar dos ecossistemas de inovação? Como superar as dificuldades em incursões de inovação aberta? Essas foram algumas questões debatidas durante o 5º Workstation da Rede Construção Digital Industrializada (RCDI), realizado no último dia 25 de agosto, via plataforma online.  

“A conexão com startups é um dos vetores de inovação. Por isso, criamos um encontro para debater esse assunto em alto nível, trazendo reflexões e orientações, além de estimular novos negócios”, comentou Roberto de Souza, CEO do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações). 

CRESCIMENTO VERTIGINOSO

De acordo com Luiz Neto, CEO da Innovation Intelligence, quando uma companhia se conecta a uma jovem empresa, universidade ou centro de pesquisa, o seu tempo de inovação é abreviado em cerca de 50 vezes. “Com a inovação aberta, é possível acessar ideias que já estão sendo testadas no mercado, o que significa uma curva de aprendizado bem menor”, explica Neto, que atua no Vale do Silício (EUA) e foi um dos painelistas do 5º Workstation. 

Segundo ele, porém, apesar dos potenciais ganhos, as empresas não devem se conectar a qualquer startup. “Afinal, nem tudo o que está disponível é plug and play e novas ideias podem apresentar diversos estágios de maturidade”, alertou. 

Nos últimos anos, houve uma evolução relevante no setor de inovação no Brasil voltado à construção e ao mercado imobiliário, contou Marcus Anselmo, co-fundador da Terracotta Ventures. Mapeamento realizado pela Terracotta identificou, em 2017, 250 empresas integrando esse ecossistema. Em 2020, o número saltou para 703 e, em 2021, a expectativa é a de chegar a 850 construtechs e proptechs. “Isso significa que construtoras e incorporadoras têm à sua disposição um acervo cada vez maior e diverso de soluções digitais para impulsionar seus negócios”, afirmou Anselmo. 

Para o executivo da Terracotta, o avanço se dá, também, em maturidade. Baseado nos últimos movimentos dos investidores, ele identifica duas tendências para as startups ligadas à cadeia da construção: a intermediação de insumos e o financiamento de imóveis 100% digital. 

Apesar dos progressos, há gargalos que atravancam o desenvolvimento mais amplo das construtechs no Brasil. “O primeiro deles é falta entendimento de que inovação requer ambição e preocupação com o retorno do acionista”, listou Anselmo. “No Brasil, também faltam instrumentos para investimento em startups mais sofisticados, bem como uma cultura de compartilhamento”, acrescentou Luiz Neto, lembrando que por aqui, em comparação ao que acontece no Vale do Silício, parte dos investidores tem um perfil muito intervencionista.

EXEMPLOS DE INTERAÇÃO

Durante o 5º Workstation da RCDI grandes empresas da cadeia da construção compartilharam experiências de inovação aberta. A Cyrela, por exemplo, mantém dois programas voltados à inovação, como relatou seu diretor de transformação digital, Guilherme Sawaya. O Mit Hub foi criado para impulsionar o ecossistema de inovação no setor imobiliário. Mais recentemente, a empresa lançou o Next Floor, canal oficial de entrada de startups na companhia. 

Gerdau também tem feito movimentos importantes visando fortalecer sua veia inovadora. A empresa lançou o ambicioso Gerdau Next para gerar novos negócios que representam 20% das receitas do Grupo em um horizonte de dez anos. A siderúrgica também acaba de apresentar ao mercado o Ventures Gerdau, programa de aceleramento para fomentar o empreendedorismo na construção civil. “O foco está em soluções que promovam a digitalização e a inserção de tecnologia disruptiva no setor, que colaborem com a sustentabilidade e com a segurança na construção, aumentando a produtividade do segmento e contribuindo para a redução do déficit habitacional”, explicou Luiz Medaglia, gestor de inovação da Gerdau. 

Quem também vem realizando ações interessantes no ecossistema de inovação é a Engeform, que idealizou o Okara Hub, dedicado à conexão e à aceleração de startups nos segmentos de engenharia, construção civil, desenvolvimento imobiliário e cidades inteligentes. A empresa também lançou o Desafio Spin em busca de soluções tecnológicas para métodos construtivos de obras de saneamento. “A ideia é identificar soluções capazes de transformar e aumentar a produtividade do método construtivo tradicional de obras lineares de saneamento”, comentou André Abucham, CEO da Engeform.

PEDRAS NO CAMINHO

Iniciativas como as da Cyrela, da Gerdau e da Engeform mostram que muitas empresas já compreenderam a necessidade de assumir um papel de protagonismo em um contexto de transformações. “Aqueles que querem se perenizar e ter relevância no mercado, precisam se dedicar com afinco à gestão do conhecimento e à inovação”, afirmou Abucham. “As startups são pequenas produtoras de grandes soluções. Elas trazem oxigênio e sangue novo para as companhias mais tradicionais que, em contrapartida, oferecem estrutura, experiência de mercado, clientes, conexões e recursos financeiros”, acrescentou  Sawaya. 

Mas há uma série de condicionantes para que a conexão entre empresas e startups renda bons resultados. Engajamento da alta direção e das equipes, além da consolidação de uma cultura interna de inovação, são pontos especialmente críticos, segundo os participantes do 5º Workstation. 

Para Medaglia, da Gerdau, sem uma cultura corporativa ágil e preparada para se aliar a parceiros externos, é muito difícil obter sucesso com projetos de inovação aberta. Na Gerdau, isso vem sendo conquistado com ações para dar mais autonomia às pessoas, simplificar processos e incentivar o trabalho colaborativo. 

“Não se cria uma cultura de inovação de uma hora para outra. Mas os esforços podem ser compensadores”, disse Medaglia. Como exemplo, ele citou a união recente da Gerdau com parceiros externos, incluindo a construtech Brasil ao Cubo, para erguer dois hospitais em tempo recorde. As instalações vêm ajudando a atender a demanda criada pela Covid-19 e ficarão como legado para as cidades de São Paulo e Porto Alegre. 

PITCHES E SOLUÇÕES INOVADORAS

O 5º Workstation da RCDI teve parte de sua programação dedicada a pitches de construtechs, proptechs e fintechs. A intenção dos organizadores foi criar mais uma oportunidade de aproximação entre a indústria da construção e novas soluções tecnológicas, gerando oportunidades de negócios. As seguintes empresas se apresentaram na ocasião:

  • ConnectData —  Solução baseada em IoT (Internet das Coisas) para rastreamento de materiais e pessoas no canteiro.
  • IM Designs —  Solução de realidade aumentada para real estate.
  • Noah — Sistema construtivo industrializado baseado no uso de madeira engenheirada para empreendimentos corporativos e residenciais.
  • Biti9 — Tecnologia para automação de processos com foco em incremento de produtividade.
  • Banib — Plataforma de tour virtual em 360 graus para comparar a evolução da obra e fazer medições, entre outros recursos.
  • Dataland — Utiliza data science, big data e machine learning no desenvolvimento de uma plataforma para análise de lotes, estudo vocacional e de massa, entre outros recursos.
  • Webropay — Fintech focada em produtos financeiros para corretores de imóveis.
  • Aratau — Solução de construção modular industrializada que consegue entregar uma casa em 120 dias.

SOBRE O CTE: O Centro de Tecnologia de Edificações é uma empresa de consultoria e gerenciamento especializada em qualidade, tecnologia, sustentabilidade e inovação para o setor da construção. Exerce suas atividades em território nacional desde 1990, desenvolvendo metodologias e tecnologias para a melhoria da gestão das empresas, dos empreendimentos e das obras, estimulando e promovendo a produtividade, a competitividade, a cultura diferenciada e o crescimento sustentável da cadeia produtiva da construção.

ator Gabriela Souza

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