Arquitetura Sustentável na Construção Civil

Gabriela Souza / 18 de setembro de 2020

RESUMO DO TEXTO

  • É extremamente relevante ter premissas sustentáveis alinhadas desde a concepção dos projetos;
  • O cliente final deve ser o centro das principais análises para a concepção de projetos arquitetônicos que atendam premissas sustentáveis e não falhem na etapa final;
  • As certificações ambientais impulsionam a qualidade dos projetos de maneira ascendente;
  • A cadeia produtiva nacional ainda precisa evoluir para atender a demanda de novos clientes;
  • Hoje é evidente o domînio de ferramentas de tecnologia que correspondem positivamente para a sustentabilidade em diferentes projetos. 

A sustentabilidade deve caminhar junto ao desenvolvimento do ser humano sem que existam comprometimentos ao meio ambiente. Na arquitetura, ela não deve atender apenas ao visual, mas, estar diretamente ligada ao desempenho energético, economia de recursos, aproveitamento da incidência de luz solar e no uso de materiais ecológicos, por exemplo.  

O tema “Arquitetura e Sustentabilidade na Construção Civil” foi pauta de um webinar promovido pelo enredes no YouTube. Os convidados foram Lula Gouveia – Arquiteto e Engenheiro Sócio do Superlimão, José Luiz Lemos – Sócio Diretor da Aflalo/Gasperini Arquitetos, Rafael Lazzarini – Diretor da Unidade de Sustentabilidade do CTE e Fernando Vidal – Diretor Geral Brasil da Perkins&Will. A conversa foi mediada pelo CEO do CTE enredes, Roberto de Souza.  

É extremamente relevante ter premissas sustentáveis alinhadas desde a concepção dos projetos. Para entender em qual realidade se encontram, Roberto questionou aos convidados sobre quais ideias de sustentabilidade fomentam. Para José Lemos, olhar em direção às dificuldades é uma verdadeira oportunidade de desenvolvimento. “Consideramos onde estão os Gaps (brechas) nos projetos. Amarrando passeios dos pedestres, colocamos paisagismos onde for necessário, locais para eventos permanentes e usamos valas verdes visando ao reuso d’água”, disse. Para o arquiteto é necessário repensarmos o uso dos espaços – principalmente em áreas comuns.  

De acordo com Fernando Vidal, o momento é oportuno quanto a qualidade do que é considerável sustentável e não apenas a emissão de certificados. “Estamos em um momento onde a sustentabilidade afeta positivamente a nova geração de arquitetos e arquitetas. Uma boa arquitetura por si só, deve ser sustentável desde o início”, falou. O profissional defende a análise de sustentabilidade em qualquer que seja a edificação, mas, para isso ainda é necessário fazer uma “mudança cultural na mentalidade das pessoas”.  

O responsável pela Unidade de Sustentabilidade do CTE, Rafael Lazzarini, explica que trabalham com consultoria para o desenvolvimento de empreendimentos sustentáveis de alta performance que geram valor ao projeto. “É importante que o sustentável esteja desde os primeiros traços, entendendo as necessidades do cliente”, expôs.  

Projetos bem concebidos e seus efeitos positivos na fase de uso e operação

A concepção de projetos sustentáveis e os resultados positivos ao usuário no momento do uso e operação (utilização do cliente) estão diretamente conectados – compartilham os convidados do webinar. Segundo Fernando Vidal, temos que ter mais tempo destinado ao cliente em todas as relações operacionais. “É preciso operacionalizar muito bem para não existir falhas. O usuário tem que estar no primeiro momento das discussões. Hoje está tudo conectado”, disse.  

Em concordância, Rafael Lazzarini, acredita no envolvimento de toda a equipe desde as etapas iniciais do projeto. “É preciso fazer análises primárias de conforto e desempenho energético para definirmos diretrizes do projeto desde o começo. Muito mais do que economizar energia, água e dinheiro, é preciso pensar em um ambiente onde os usuários vão produzir bem e de maneira eficiente” expressou.  

Pensar em atender requisitos sustentáveis e consequentemente conseguir bons certificados, reflete na qualidade e usabilidade ao usuário final.  Segundo José Lemos, hoje possuímos muitos dados de entrada (quem é o usuário, qual o tipo, o que deseja). “Não podemos iniciar um projeto sem pensar no usuário final e no quanto ele consome – dessa forma nós vemos projetos melhorando e soluções aparecendo desde a concepção”, afirmou. 

A importância das certificações ambientais para a evolução da arquitetura sustentável

As certificações ambientais impulsionam a qualidade dos projetos de maneira ascendente. De acordo com Fernando Vidal, a busca por certificados deve existir desde a concepção do plano. “Isso movimenta a cadeia, a própria norma de desempenho impulsiona para isso. Vejo nesse ecossistema as certificações impulsionando a qualidade de um todo”, explicou. Para o arquiteto, ainda temos grandes desafios com o nosso sistema construtivo nacional.  

Para José Lemos, as certificações chegaram para criar critérios e em consequência ganharam valorização comercial. “O sistema de processos evoluíram muito para atender esses critérios, isso sem dúvida criou um balizador e, querendo ou não, o mercado começou a subir no nível de qualidade”, falou. 

O mercado sofreu fortes modificações com empresas que só aceitam desenvolver suas funções em edificações certificadas e sustentáveis. Segundo Lula Gouveia, a regra para projetos está mais clara e aperfeiçoada. “Certificação é valorizar e nivelar projetos. Desse modo tiramos proveito do bem que fazemos ao ecossistema, como também aproveitamos da eficiência financeira que isso proporciona”, definiu.  

Conforme disse Rafael Lazzarini, as certificações não são perfeitas, mas, grandes auxiliadoras. “Nos últimos 14 anos de certificações de sustentabilidade no Brasil, elas foram os principais impulsionadores de qualidade dos projetos. É algo evolutivo e transformador – os certificados ‘subiram a régua’ das edificações”, disse. Para o convidado, uma prova disso é que há tempos não se questionava sobre quais ingredientes ou componentes existiam nos produtos, e hoje a maioria dos clientes se importam. “Isso se dá por conta dos impactos negativos que algumas substâncias podem causar ao ambiente”, completou.  

O próprio capital está voltado para isso. Como disse o anfitrião da noite, Roberto de Souza, os maiores fundos de investimentos do mundo – com um capital estimado de 3 trilhões de dólares – só buscam por empreendimentos com certificações sustentáveis. “É um movimento impressionante e sem volta”, concluiu.

A cadeia produtiva e a sustentabilidade

Lula Gouveia defende ser o mais sustentável (ao falar em cadeia produtiva) aquilo que está mais próximo da obra – contanto que atenda a demanda. “Talvez procurar madeira ainda seja um desafio, por mais que tenha evoluído muito”, disse. O convidado alega que é preciso pensar em medições confiáveis, bons ensaios e escolhas corretas de materiais. “O uso e a pesquisa precisam estar envoltas dessas realidades” defendeu.  

A cadeia evoluiu e hoje contamos com bons fornecedores nacionais – as performances avançaram. Segundo Rafael Lazzarini, mesmo em ascensão, ainda há dificuldade de encontrar fornecedores com boas informações, certificações e estudos. “Como recomendação há estudos mais avançados que fabricantes podem fazer. Por parte dos usuários, precisa haver uma pesquisa sobre esses produtos”, falou. O Diretor da Unidade de Sustentabilidade do CTE defende uma análise crítica das tecnologias aplicadas ao edifício para que não exista desperdício.  

José Lemos entende que ainda existem campos para evoluírmos. Soluções de fachadas, materiais, emprego de elementos arquitetônicos, entre outros. “Ainda temos pouco por aqui, estamos com muitas lacunas na cadeia nacional para a demanda”, explanou. Ainda falta pesquisa e desenvolvimento de materiais. “A cultura está mudando um pouco, mas, ainda há muito para evoluir”, analisou.  

A cadeia vem bem intencionada, mas, aquém da velocidade que o mundo acontece. Similar a isso, Fernando Vidal compreende uma “dificuldade grande de comunicação e cultura”, onde infelizmente tudo que é sustentável é visto como mais caro (apenas). De acordo com o convidado, se usarmos materiais sustentáveis, fazemos uma prevenção da vida útil e ecológica daquele empreendimento.

Projetos que contemplam BIM, transformação digital e industrialização da construção 

Já no processo de projetos, é vasta a quantidade recursos para lidarmos com questões de sustentabilidade. Conforme defendeu José Lemos, hoje temos o domínio de ferramentas e consultorias especializadas. “O nível de recursos para tomarmos a melhor decisão é amplo. O BIM veio para ficar e com ele nós gerimos as informações com sustentabilidade”, finalizou. 

Fernando Vidal considera que os softwares ajudam no sentido da comprovação com o uso de estatísticas. Dados inseridos nesses programas, auxiliam em comprovações aos clientes. “Isso proporciona a plasticidade final com questão técnica, provando antes de construir, o que é muito interessante” disse. O arquiteto lembra que ao usar tecnologias à favor das edificações, minimizam-se erros de questão sustentável. “A tecnologia veio para ajudar”, defendeu. 

Lula Gouveia cita a velocidade, qualidade e preço como o tripé que alcançou evolução.  “Hoje podemos fazer uma parede curva e ela funcionará graças ao auxílio das  tecnologias. Vejo o BIM como otimizador e grande potencial para nós da cadeia da construção e arquitetura” explicou. 

É impossível distanciarmos do uso de tecnologias, já que estamos apoiados nas ferramentas para o desenvolvimento de projetos. Conforme disse Rafael Lazzarini, hoje contamos com computadores e processamentos mais velozes que simulam diversas alternativas com vários cases para o cliente. “Essa velocidade permite fazer análises com diferentes alternativas de sistemas de estrutura e várias plataformas” concluiu. 

No webinar ficou clara a aspiração e necessidade aos profissionais da arquitetura em desenvolver projetos visando a sustentabilidade – quem não corresponder com as tendências do mercado por construções ecológicas, perderá espaço no futuro. 

Confira o webinar tema deste texto:

ator Gabriela Souza

Notícias Relacionadas