A construção modular off-site no mercado imobiliário brasileiro

Gabriela Souza / 12 de abril de 2021

A construção modular off-site tem sido impulsionada no Brasil pela necessidade de elevar a produtividade, reduzir ciclos e custos globais, melhorar a previsibilidade e construir de modo mais sustentável e eficiente, com menos desperdícios. 

Esse modelo é bastante explorado em países desenvolvidos, onde não é difícil encontrar casas inteiras construídas em fábricas e transportadas em carretas até o local de instalação. No Brasil, embora ainda haja muito o que avançar, é possível encontrar projetos de diferentes tipologias sendo viabilizados técnica e financeiramente com a construção off-site. Isso ficou claro durante o 2º Workstation de 2021 da Rede Construção Digital e Industrializada (RCDI). Realizado no último dia 6 de abril, em plataforma online, o evento teve a participação de mais de 140 profissionais de empresas integrantes da Rede.  

“O rol de soluções industrializadas está ganhando corpo, criando muitas oportunidades para a construção civil resolver questões como a baixa produtividade e os altos impactos ambientais”, comentou Roberto de Souza, CEO do CTE Enredes. Ele lembrou que ao ser mais eficiente e reduzir a pegada de carbono da construção, o modelo off-site está alinhado com os princípios ESG (Environmental, Social and Governance).

OFF-SITE EM SEGMENTOS VARIADOS

Um levantamento realizado pela Markets and Markets projeta uma taxa de crescimento anual de 5,75% para o mercado de construção modular global entre 2020 e 2025. Esse mesmo estudo aponta Brasil, China e Japão como países com maiores oportunidades para a construção modular se desenvolver graças a fatores como escassez ou alto custo de mão de obra e déficit habitacional elevado.  

O trabalho feito por empresas como AratauQuickhouse e Visia comprovam que esse movimento. A Aratau criou um modelo de negócio baseado em pré-construção, BIM (Building Information Modeling) e fast construction para desenvolver residências de médio e alto padrão que combinam modularidade com flexibilidade e customização. “Com isso, conseguimos reduzir prazos em até 50% e diminuir os custos em até 20%”, diz Paulo Oliveira, CEO da Aratau.  

Ele destaca que, uma das vantagens da construção modular é a diversidade de soluções disponíveis. “Atuamos com módulos tridimensionais e bidimensionais (painéis) e com múltiplas opções de chassis estrutural e de fechamentos internos e externos. As definições de sistemas são decorrentes das necessidades de cada projeto”, explica Oliveira. 

Além do segmento habitacional, a construção modular produzida fora dos canteiros encontra aplicações importantes em projetos comerciais e institucionais, especialmente quando a velocidade de execução é um fator crítico. A Quickhouse, por exemplo, executa projetos de múltiplas tipologias partindo de módulos e painéis metálicos que chegam ao canteiro prontos para a montagem com as instalações embutidas e, muitas vezes, com os revestimentos e acessórios instalados. 

“O manuseio dos painéis no canteiro pode se dar com guindastes munck de baixa capacidade”, explicou  o arquiteto Roberto Antônio Becker. Segundo ele, em função da maior facilidade para atender prazos curtos, o off-site é um diferencial para as construtoras/montadoras participarem de licitações. Ele citou escolas, delegacias e instalações de saúde entregues em tempo recorde, como o hospital modular de Nova Iguaçu (RJ), concluído em apenas 60 dias com 300 leitos de capacidade. 

Assim como a Aratau e a Quickhouse, a Visia tem conquistado espaço no mercado com produtos off-site para obras comerciais, educacionais, institucionais e residenciais. A construtora também trabalha com obras penitenciárias, desenvolvendo módulos de celas de concreto reforçado com fibras. “Já construímos mais de 110 obras com esse sistema que permite industrializar entre 85 e 90% da construção de um presídio”, comentou Eduardo Deboni, sócio e diretor de novos negócios na Visia. Para ele, “o processo de industrialização da construção é irreversível. Mas para que o processo seja bem-sucedido, é importante um rigoroso acompanhamento de qualidade, além de muita disposição para inovar”. 

FÁBRICA DE CASAS 

Focada no mercado habitacional de padrão econômico, a Tenda aposta na construção modular off-site em woodframe para ampliar seu mercado de atuação e construir com mais sustentabilidade. Terceira maior construtora brasileira listada na B3, a empresa está montando uma fábrica em Jaguariúna, SP, com capacidade para produzir anualmente 10 mil casas. A produção da nova fábrica deve atender principalmente, o mercado de habitações horizontais em cidades de médio porte. 

Antes de optar pelo woodframe, a Tenda estudou outros sistemas construtivos. “A alvenaria estrutural é uma solução que atende bem as demandas das cidades pequenas, mas apresenta baixo grau de industrialização. Já a parede de concreto com forma de alumínio possui alto potencial de industrialização, mas só se viabiliza com uma escala minima de mil unidades”, comparou Marcelo Melo, diretor-executivo de negócios.  

“A utilização de um sistema industrializado baseado em madeira representa um giro de 180 graus. Primeiro porque em vez de insumos com muita pegada ecológica, usamos um material que captura carbono da atmosfera. Além disso, com o ganho de escala, conseguimos um custo competitivo para oferecer ao mercado um produto de qualidade superior”, completou Edgar Vaitekaites, gerente técnico na Tenda. 

Aos participantes do Workstation da RCDI, Melo e Vaitekaites listaram três fatores  de sucesso para a construção off-site no Brasil:

  • Padronização e a escala;
  • Ter domínio do processo ou de todo o ciclo da construção;
  • Desenvolver uma cadeia de fornecedores comprometida.

CASE INÉDITO

A programação do Workstation da RCDI foi finalizada com apresentação de Murilo Mello, gerente de engenharia e pesquisa & desenvolvimento na Brasil ao Cubo. Ele discorreu sobre o Level, primeiro edifício off-site volumétrico da América Latina. Com oito pavimentos, o prédio corporativo foi concluído em Tubarão, SC, após dois meses de montagem. A obra utilizou módulos construídos em fábrica com chassis de aço unidos por aparafusamento. “Nesse caso, conseguimos um custo de R$ 4 mil o metro quadrado, mas é possível otimizar esse valor”, comentou Mello.  

Empreendimentos como o da Brasil ao Cubo mostram ser possível levar a industrialização a um grau mais elevado, aproximando a construção do que ocorre há anos na indústria automobilística. Para Murilo Mello, ainda que haja muito espaço para evolução, ensinamentos extraídos dessa experiência pioneira apontam para a importância de investir em um processo colaborativo que culmine em projetos bem lapidados. “Nesse ponto, o uso do BIM em seu sentido mais amplo é um pré-requisito elementar para a construção modular off-site”, concluiu Mello. 

O próximo Workstation da RCDI acontecerá em maio. Fique atento às atualizações do nosso blog e nas redes sociais do enredes para não perder as novidades.

ator Gabriela Souza

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