1º Workstation sobre Tecnologias Digitais na RCDI 2021

Gabriela Souza / 8 de março de 2021

Dando início à sua programação anual de atividades, a Rede Construção Digital e Industrializada (RCDI) realizou no último 2 de março o seu 1º Workstation exclusivo para as 70 empresas integrantes da Rede. Com quatro horas de duração, o evento abordou “Tecnologias Digitais aplicadas nas etapas de Desenvolvimento de Produto, Marketing, Vendas, Contratos e Relacionamento com os clientes”. “O nosso objetivo foi aprender e nos inspirar com aplicações em diferentes etapas do desenvolvimento de produtos imobiliários, de ponta a ponta”, comentou Roberto de Souza, CEO do CTE Enredes. 

Os trabalhos reuniram mais de 150 participantes e começaram com uma apresentação de Carlos Marchi, head de Urban Data Science e sócio na Dataland. Ele discorreu sobre aplicações de machine learning, big data e inteligência artificial para gerar e estruturar dados que apoiem o desenvolvimento de negócios imobiliários.  

Em Viena (Áustria) e em Amstelveen (Holanda), a ciência de dados foi utilizada para orientar estratégias de ocupação e o desenvolvimento de produtos imobiliários mais perenes. “Criamos um algoritmo que nos permitiu ter uma radiografia de como o local é percebido pelas pessoas que circulam por ali. A partir daí, elaboramos recomendações de usos e vocações do espaço urbano, potencializando a performance dos investidores”, disse Marchi, ressaltando que em São Paulo já é viável aproveitar o urban data science para criar estudos vocacionais e de viabilidade de terrenos.  

Um desafio é articular os dados coletados em diversas fontes de modo que eles possam ser aproveitados como informação de valor para o mercado. “Ainda existe um gap entre a consistência dos dados disponíveis no Brasil e os utilizados nos EUA e Europa, mas essa diferença é cada vez menor”, comentou o sócio da Dataland, enfatizando que os algoritmos aplicáveis em São Paulo foram calibrados para abarcar, também, legislações como a lei de ocupação do solo e as operações urbanas. 

Blockchain e contratos digitais

Assim como a ciência de dados, outra inovação que desperta o interesse das empresas da cadeia da construção é a blockchain (cadeia de dados, em português). A tecnologia consiste em um sistema de registro de informações baseado em técnicas criptográficas para agilizar transações complexas. A segurança associada à desburocratização fez com que a blockchain tivesse destaque no mercado de criptomoedas. Mas essa tecnologia pode revolucionar outros segmentos que envolvam transações comerciais, incluindo o mercado imobiliário.  

“A blockchain é um protocolo de tecnologias digitais que contribui para automatização de processos de trabalho e facilitar a relação contratual, a validação de transações e o registro de transações”, explicou Hugo Pierre, CEO na Growth Tech. De acordo com ele, a utilização da blockchain por toda a cadeia de incorporação poderia proporcionar às empresas benefícios importantes como maior produtividade em processos administrativos, maior transparência nas cláusulas dos acordos e contratos, além de incentivar o processo paperless e liberar os profissionais para focarem em suas atividades-fim.

Transformação digital

A crise gerada pelo Covid-19 mostrou como a tecnologia pode contribuir para dar resiliência e garantir que as empresas desenvolvam respostas rápidas e assertivas em um contexto de mudança. 

No caso da Cyrela, um desafio a ser superado pelas equipes foi manter proximidade com os clientes mesmo em tempos de distanciamento social. “Antes da pandemia, tínhamos muitos pontos de contato presencial e precisamos nos adaptar para garantir uma jornada positiva para aqueles que compraram imóveis conosco”, contou Caroline Mathias, gerente de relacionamento com o cliente na Cyrela.  

A solução encontrada pela construtora e incorporadora buscou combinar o mundo físico com o digital explorando tecnologias digitais como realidade aumentada,  vídeos 360 e lives nas redes sociais. “Outra experiência bem avaliada foi o desenvolvimento de um livro com relatos sobre o desenvolvimento conceitual do empreendimento e histórias de bastidores da obra”, revelou Mathias. 

Assim como a Cyrela, a Hilt também viu a crise gerada pela pandemia como uma oportunidade para acelerar seu processo de transformação. “No início de 2020 iniciamos a implantação de um novo CRM, um processo que deveria ocorrer globalmente em um prazo de dois anos. Veio a pandemia e nosso comitê executivo, em vez de parar tudo, decidiu acelerar a mudança”, contou Ana Gea, diretora de marketing Brasil da Hilt. Segundo ela, nesse caso, não se trata apenas de um projeto de migração de plataforma de gestão e relacionamento, mas de criar um senso de oportunidade oferecendo às equipes ferramentas adequadas para que possam desenvolver novas potencialidades em um contexto digital. 

Na visão de Ana Gea, o processo vivido pela Hilti evidenciou que a migração para o digital não é parte do futuro, mas é parte do presente. Também mostrou que não se pode subestimar a importância da liderança em um processo de mudança. “O comprometimento dos gestores é um fator de sucesso. É isso que conduz as equipes a caminharem juntas”, reforçou a diretora de marketing. 

Desafios e lições aprendidas no processo de transformação digital também foram enfatizados na apresentação de Eduardo Barbosa, CEO Brognoli Imóveis. A empresa atua no mercado de locação e venda de imóveis na região de Florianópolis (SC) e vive uma jornada de transformação e de inovação desde 2017, para a qual disponibiliza anualmente entre 10 a 15% da sua receita. 

Ao longo desta trajetória, múltiplas ações foram adotadas, como a criação de um time de data science, a aproximação com um hub de startups e o mapeamento de toda a jornada dos clientes internos e externos. Como resultado, a Brognoli criou a primeira imobiliária digital de Florianópolis e lançou uma plataforma que inverte o processo de busca de imóvel para privilegiar o ponto de vista do cliente. Em um processo de inovação aberta, a empresa também desenvolveu uma esteira digital que acompanha todo o processo de locação de um imóvel.  

Para Barbosa, a cultura é o que impulsiona todas essas transformações. “Estruturamos a nossa jornada engajando pessoas, mapeando processos e incorporando tecnologias digitais. Mas não é só isso. É preciso garantir sustentação a essa transformação”, ressaltou o executivo. Segundo ele, um erro a ser evitado é negligenciar o trabalho para mudar o mindset e desenvolver as capacidades das pessoas. Afinal, de pouco adianta investir em várias metodologias sem capacitar as pessoas para absorvê-las.

ator Gabriela Souza

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